Cuidado com os falsos profetas
Imagem: Marcos Corrêa/PR
O movimento profético foi importantíssimo para a sociedade de Israel. O Antigo Testamento mostra isso muito claramente ao longo de seus diversos livros. Desde Débora, passando por Elias no livro de Juízes, até Malaquias, se quisermos seguir a ordem em que os livros foram organizados em nossas bíblias, é notória a participação dos profetas e de algumas profetizas na vida da nação de Israel.
O termo profeta quer dizer porta-voz. Nesse caso, o profeta ou profetiza eram os/as porta-vozes de Deus para a sociedade, que alertavam o povo e principalmente os governantes o que era esperado por parte de Javé. Por causa disso, não era de se estranhar que diversos reis e rainhas perseguissem os profetas. Basta lembrar dos casos de Elias, Eliseu, ou ainda, de Jeremias para se atentar ao fato de que nem sempre os governantes estavam tão interessados em ouvir que suas práticas se mostravam contra a justiça de Deus.
Claramente, tal situação não mudou em tempos atuais. Os diversos profetas e profetizas que se levantam em nossos dias, condenando as práticas de governos que fazem o mal para o povo e o direciona para a fome, violência e morte são constantemente perseguidos, encarcerados e, não poucos mortos. Basta lembrarmos os exemplos de Dorothy Stang, que foi assassinada por sua luta em favor da Amazônia, ou o caso de Óscar Romero, que lutando contra um regime de opressão, foi morto em 1980 pelo exército salvadorenho, ou ainda, de Marielle Franco, que foi assassinada há 1295 dias por causa de sua luta pelos direitos humanos e denúncia de abuso de autoridade por parte da polícia de seu estado. Esses são somente alguns exemplos, dentre tantos outros que poderiam ter sido citados, de pessoas que morreram por causa da justiça e foram vozes proféticas em nosso tempo.
Tanto as narrativas bíblicas como os exemplos que trouxemos mostram que ser profeta ou profetiza não tem nada a ver com adivinhação de futuro. Antes, está relacionado com a luta pela justiça, pela igualdade social, pelo direito do pobre e da viúva, visto ser essa a vontade de Deus revelada em todo texto bíblico.
Não é de se admirar, portanto, que Jesus, ao falar no conhecido sermão do monte sobre os profetas, alerte aos seus ouvintes: “cuidado com os falsos profetas” (Mateus 7,15-23). Tais pessoas afirmam falar em nome de Deus, colocando-se como seus porta-vozes, mas na verdade se comportam de uma maneira totalmente contrária àquela desejada por Ele. Na sequência do texto Jesus afirma que pelos frutos se conhece a árvore, uma vez que não é possível que de uma árvore ruim saia um fruto bom. Aqui algo se mostra muito importante: as ações dos falsos profetas e das falsas profetizas não condizem com aquilo que Deus deseja, ainda que seus discursos tentem ir em outra direção. Geralmente, são aqueles e aquelas que defendem a moral e os bons costumes em nome de Deus, mas agem na ilegalidade e na imoralidade, são líderes religiosos que afirmam que não se deve vacinar porque Deus irá curar a seus fiéis, mas se vacinam em outros países por terem condições de o fazerem, são governantes que afirmam que Deus está acima de todos, e agem como verdadeiros demônios para os mais desfavorecidos. Em outras palavras, geralmente são hipócritas que se colocam como arautos da santidade, mas são, na verdade, como sepulcros caiados.
Não é de se espantar, portanto, que Jesus afirme que nem todo que diz Senhor, Senhor será salvo, mas apenas aquele e aquela que faz a vontade de Deus. E qual é a vontade de Deus? É exatamente isso que os verdadeiros profetas e profetizas ao longo da história, e ainda em nossos dias, continuam clamando: que haja justiça social, que as pessoas pobres não sejam esquecidas, que se acabe com a fome, que a riqueza excessiva que explora os mais fracos seja abolida, que a sociedade seja igualitária, que não haja discriminação de cor, raça, gênero, ou o que quer que seja. Enfim, que o Reino de Deus se torne cada dia mais presente em nosso meio.