Toda teologia é fruto de seu tempo

Toda teologia é fruto de seu tempo

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Toda teologia é fruto de seu tempo. Essa frase pode parecer sem sentido para algumas pessoas que veem a teologia como algo que existe desde sempre. Ao mesmo tempo, em muitas esferas do cristianismo, a frase com a qual começamos este texto se mostra como grande heresia, uma vez que nessas esferas o caráter temporal da teologia é comumente suprimido para garantir alguma atemporalidade doutrinal ou escriturístca.

Ver a teologia como atemporal, a meu ver, traz dois grandes problemas para a própria teologia. O primeiro deles é que a tira do mundo. Afinal, se o conhecimento teológico e a elaboração teológica que o cristianismo tem hoje são atemporais, então o mundo não faz diferença nenhuma para ela. Em outras palavras, pensar dessa forma é transformar a teologia em algo divinizado, fora da esfera humana e que foi entregue por alguma entidade superior para que fosse estudada e obedecida. Assim como as leituras fundamentalistas do texto bíblico pregam uma atemporalidade bíblica, as pessoas que pensam uma teologia vinda do céu para a terra pensam uma atemporalidade teológica, afastando dessa teologia toda categoria processual, próprias das realidades e vivências humanas.

O segundo problema, consequência direta do primeiro, reside no fato de tirar da teologia a capacidade de dizer algo novo e diferente para o mundo em que ela está. Afinal, se tal teologia é atemporal e fixada desde sempre por algum ser celestial, então não há nada a ser incluído, questionado, reformulado ou dito de outra forma.

Ao se retirar a teologia do mundo e automaticamente impedir que tenha algo novo para falar, o cristianismo é incapaz de dar respostas para o seu tempo, transformando-se, portanto, num discurso morto e sem vida, que interessa somente àqueles e àquelas que detém o poder religioso, ou que gostam de textos antigos e de avaliar evoluções filológicas. Da mesma forma, tal discurso transforma o cristianismo em uma religião meramente dogmática, onde sua teologia é vista somente como um conjunto de regras e elocubrações feitas na antiguidade, e que deve ser compreendido e obedecido com temor e tremor.

Aqui entra algo importantíssimo para a teologia atual. Ela não pode ser estática, como algo dado e que não pode ser reformulado. Antes, toda teologia deve ser vista como processo. Sendo processo, está em constante reformulação e adequação ao momento e local em que está inserida.

Assim como ao longo da história do povo de Israel diversas teologias foram sendo construídas, reformuladas, esquecidas e ressignificadas (frutos de seu tempo e das realidades histórica, social, política e econômica que o caracterizam), assim também, em nossos dias, é necessário que se acompanhe as questões urgentes de nosso tempo para que respostas teológicas possam ser dadas de maneira corajosa.

Isso, por sua vez, não implica esquecer todas as construções teológicas realizadas até aqui e que serviram de base para que o cristianismo fosse uma religião bem sistematizada na contemporaneidade. Contudo, é preciso ir além. Cada tempo demanda para si uma teologia e é justamente isso que é requerido de teólogos e teólogas de hoje: a coragem para encarar os problemas atuais na tentativa de propor respostas teológicas e não dogmáticas para os nossos dias. Isso, no entanto, só é possível quando se reconhece a fragilidade que toda teologia tem por ser condicionada ao seu próprio tempo. Nesse sentido, é preciso coragem para teologizar e somente assim a teologia se tornará uma voz demandada pela sociedade de hoje.

Se, pelo contrário, o cristianismo insistir em dar respostas meramente dogmáticas para tempos atuais, cada vez mais tende a se transformar em uma religião que morre aos poucos, achando que está em pleno vigor porque está fechada em seu próprio círculo.

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