Pressa e cobrança: desafios para os relacionamentos
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O ser humano contemporâneo é marcado pela pressa. Hoje em dia, fruto de uma estrutura capitalista e que visa a maximização dos resultados no menor tempo possível, é comum vermos pessoas correndo o tempo todo para entregar alguma demanda a alguém. Seja no trabalho, na escola, na universidade, na igreja as tarefas são todas para ontem, de maneira que o sentimento de que se está devendo algo é latente.
Essa lógica, muitas vezes, faz com que as pessoas se sintam úteis, afinal, se algo é demandado com urgência, pressupõe-se que a pessoa solicitada para fazer determinada tarefa é necessária para tal. Esse sentimento de utilidade, por sua vez, também traz o medo da inutilidade e, por isso, não é difícil que essas mesmas pessoas, por medo de perderem o emprego ou alguma outra vantagem adquirida por sempre ser a pessoa que entrega tudo rapidamente, aceite se esgotar fisicamente e mentalmente para atender às expectativas cada vez mais abusivas de seus chefes em diversas instâncias da vida.
Da mesma forma, são inúmeros os relatos de pessoas que se sentem culpadas por tirar um tempo para o descanso. Elas constantemente se sentem cobradas por estarem “fazendo nada” ou “desperdiçando o tempo” com lazeres diversos, de maneira que até mesmo tirar um dia para si mesmas é sentido como algo mau. Em certa medida, a lógica da entrega o tempo todo se torna o senhor de muitas vidas. Nesse sentido, não é difícil perceber por que atividades que visem a saúde, ou até mesmo as de lazer são vistas como “dívidas” a serem pagas. As redes sociais nos mostram constantemente mensagens de “Tá pago” para alguma atividade física ou “tirando o dia para descansar”, como se tais pessoas tivessem que prestar contas ao mundo do porquê não estarem em seus escritórios ou fazendo algo que a sociedade considera produtivo. Essa pressa e essa cobrança, quando trazidas para os relacionamentos interpessoais ou religiosos também se mostram perniciosos.
No caso da cobrança, é comum encontramos pessoas que estão o tempo todo se sentindo mal por supostamente nunca terem alcançado o que querem. Tal cobrança, seja de si mesma, seja relativo às outras pessoas, muitas vezes se dá pelas comparações, algo que as redes sociais potencializaram. Assim, a cobrança e a insatisfação andam juntas, uma vez que sempre haverá alguém que aparenta ter uma vida e um relacionamento mais feliz, ou uma casa maior, ou um emprego melhor, ou um relacionamento com Deus mais profundo, e a lista segue indefinidamente.
No caso da pressa, é comum observarmos como diversas pessoas não têm muita paciência para se dispor a conhecer a outra pessoa ou fazer a caminhada necessária para o estabelecimento de um relacionamento duradouro, sendo comum em nossos dias que relacionamentos sejam descartáveis e que a qualquer sinal de desgaste a primeira coisa que se pense seja na substituição de um companheiro/a por outro/a.
Essa pressa, por sua vez, também se reflete no relacionamento com Deus. São diversas as pessoas que tentam atalhar o caminho de intimidade com Deus, como se tornar-se íntimo de Deus fosse um passe de mágica em que basta dizer as palavras certas e pronto: tornou-se o melhor amigo de Jesus Cristo. Em outras palavras, a disposição para aprender sobre a pessoa de Deus, o estudo do texto bíblico para compreensão de sua mensagem, uma rotina de devocional e oração são vistas como “tempo demais” ou “chato demais” para se fazer.
Seguindo na lógica da dinâmica capitalista, é possível se pensar que há algo que possa ser feito para maximizar os resultados desses relacionamentos, alguma solução que traga todos os benefícios da relação, mas sem os seus percalços e escolhas diárias em favor de sua manutenção e crescimento. Contudo, uma vez que relacionamentos não devem ser vistos pela ótica capitalista, tal atalho não existe. Seja nos relacionamentos interpessoais, seja nos relacionamentos religiosos, a pressa não é o melhor caminho.
Disposição e perseverança, categorias essas que se maturam com o tempo, mostram-se como fundamentais para relacionamentos duradouros em uma sociedade que tem pressa e que cobra o tempo todo. Sem elas, todo relacionamento sucumbirá à “hora do rush” capitalista e será facilmente descartável.