Há cristãos que não aceitam o amor de Deus

Há cristãos que não aceitam o amor de Deus

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Ninguém compreende o amor de Deus. Essa máxima parece ser comum entre todas as pessoas que se dizem cristãs. Na verdade, desde a mais tenra idade já se ouve o ensinamento de que Deus é amor e de que tem por sua criação um amor tamanho, a ponto de dar seu Filho Unigênito em prol de seus filhos e filhas, sendo João 3,16 um dos primeiros versículos a ser decorado nas escolas dominicais.

Embora não seja compreensível tal amor, muitas vezes ele também não é aceito. E aqui não falo somente de pessoas que, uma vez ouvindo sobre o dom gracioso de Deus e da reconciliação com o mundo que Ele propõe por meio de Jesus, decidem por não seguirem tal proposta, ou não aceitarem tal anúncio. Na verdade, falo mais para outro tipo de não aceitação, que ocorre entre aqueles e aquelas que já são cristãs de longa data.

Essa não aceitação do amor de Deus, no entanto, não se manifesta no rejeitar da letra da mensagem cristã. Todas as pessoas que pertencem ao cristianismo aceitam que “Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho Unigênito para que toda aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”. A não aceitação do amor de Deus se manifesta em não aceitar que esse amor abarca a todos e todas indiscriminadamente. Em outras palavras, não se aceita o fato de que tal amor não faz acepção de pessoas, e de que esse mesmo amor não possua filhos e filhas favoritas.

Numa tentativa de fazer com que o juízo divino se assemelhe ao nosso conceito de justiça, são muitas as pessoas que consideram um absurdo que aos olhos de Deus ladrões, estupradores, prostitutas, estelionatários, agiotas, mentirosos, cafajestes e toda e qualquer outra categoria de seres humanos considerados maus que se queira listar estejam no mesmo nível que os pastores, padres, freiras, devotas, médicos, líderes sindicais, animadoras de catequese, ou qualquer outra categoria que se queira listar de pessoas consideradas boas e “tementes” a Deus.

Assim, veem como uma afronta quando tal verdade do evangelho é levada às suas últimas consequências e são incapazes de aceitar um Deus que seja assim. Afinal, em suas visões de Deus, é necessário que ele puna os que fazem o mal e recompense aos que fazem o bem para que haja, de alguma maneira, uma justiça no mundo mal em que vivemos. Um Deus que ama indiscriminadamente, que não trata com diferença os bons e maus, os santos e não santos pode parecer desnecessário e, até mesmo, fraco e não verdadeiro.

Não é fácil aceitar um Deus assim e não é de se espantar que muito do discurso de várias pessoas que se dizem cristãs tenta a todo modo fazer uma pré-seleção daqueles e daquelas que podem ou não podem ser dignas do amor de Deus. Nesse discurso, “cidadãos de bem e defensores da família” são beneficiários certos desse amor, enquanto homossexuais, prostitutas, presos, sem-terra, sem-teto, os que lutam por condições dignas na sociedade não são dignos, sendo considerados como afastados de Deus e dignos da condenação por não aceitarem o status quo.

Essas pessoas comprometidas com essa pré-seleção para o amor de Deus são as que não aceitam o Deus anunciado nos evangelhos. No lugar, desejam um Deus exclusivo, que ama somente aos que se adéquam aos padrões de certo e errado estabelecidos por eles. Nesse sentido, tais pessoas não compreenderam em nada a mensagem de Jesus e, embora anunciem João 3,16, nunca compreenderam a radicalidade do ensinamento de Jesus.

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