Teologias que não escutam
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Todo relacionamento precisa de escuta atenta. Não raro ouvimos que alguma relação tenha terminado entre duas pessoas porque uma não ouvia a outra, ou porque uma parte não se atentava àquilo que a outra demandava, tendo com a sensação de se falar com as paredes. De tanto insistir em ser ouvida e não haver nenhum tipo de resposta se considera o rompimento como a única coisa a se fazer e, uma vez acabada a esperança, encerram-se também as possibilidades de retorno.
Quando olhamos para a questão da teologia e sua relação com o mundo, a premissa com a qual começamos nosso artigo também se aplica. Não dificilmente temos presenciado teologias que se distanciam do mundo, não ouvindo o que este tem a dizer em suas diversas vozes. Focando-se somente em doutrinas, normas, teorias etc constantemente a teologia tem se tornado surda para com aqueles e aquelas com quem deveria se relacionar.
No entanto, em um país no qual a maioria das pessoas se diz cristã, é possível também perceber que as pessoas ainda querem ouvir algo por parte de teólogos e teólogas. Algo que faça sentido para suas existências diárias, que traga conforto e respostas para seus dramas.
Diante desse cenário, torna-se importantíssima uma teologia pública, que seja feita a partir de baixo, das experiências do povo, de suas lutas e suas questões. Isso não quer dizer deixar a seriedade de lado. Muito pelo contrário, significa tomar a atitude essencial para um bom relacionamento, que é ouvir o outro com quem se relaciona. Descer de certo pedestal imaginário no qual diversos teólogos se colocam, achando que estão por cima de todo mundo, e abrir mão da pretensão de serem os detentores de uma verdade última, a qual somente eles têm acesso são tarefas imprescindíveis. Não cabe mais uma visão teológica nos moldes de uma cristandade da Idade Média, na qual o cristianismo era quem ditava o certo e o errado. Esse saudosismo por parte de grande parcela religiosa no país somente contribui para o constante afastamento da teologia na relação cristianismo – sociedade.
É imprescindível para o cristianismo compreender que não há escuta sincera se não houver humildade e que não se alcançam pessoas sem a disposição para ouvir com atenção o que elas têm a dizer. Talvez, na contemporaneidade, o ato de ouvir seja um dos maiores desafios para o cristianismo.
Ao mesmo tempo, lidar com tal desafio pode fazer com que a proposta cristã volte ao seu fundamento, que é a pessoa de Jesus de Nazaré, o galileu que andava com os humildes e pobres de seu tempo, expondo o Reino de Deus numa linguagem cotidiana, de fácil assimilação, sem rebuscamentos, mas com profundidade e seriedade. Uma mensagem que, como disseram os caminhantes de Emaús, “ardia o coração” quando se ouvia.
Recuperar o exemplo de Jesus, refazer seu comprometimento com o povo de caminhar junto com ele, sentir suas dores, ouvir seus clamores e anunciar a esperança do Reino de Deus deveriam ser a principal tarefa teológica da atualidade e todo o resto deveria, portanto, ser considerado como adendo e nota de rodapé para explicitar alguma coisa que seria importante de ser lembrada.
Infelizmente, em várias teologias atuais é o exemplo de Jesus que tem sido tomado por nota de rodapé nas pomposas e bem articuladas elucubrações que vários teólogos e teólogas têm feito em suas tentativas de falar somente a seus pares, deixando de lado aqueles e aquelas para quem Jesus falaria e a quem ouviria, caso vivesse em nossos dias.
Muito obrigado. Excelente saber que gostou do texto