Diante de um evangelho vil, a melhor resposta é o ateísmo

Diante de um evangelho vil, a melhor resposta é o ateísmo

Photo by Ian on Unsplash


A última semana foi desastrosa para o movimento cristão brasileiro, principalmente para o movimento evangélico. Houve padre acusado de desvio de dinheiro, pastor sendo preso, a descoberta de que uma pastora e cantora gospel foi assassina do próprio marido. Esses fatos, porém, foram somente os que a grande mídia noticiou, uma vez que qualquer pessoa que já esteve ou está envolvido nas cúpulas do movimento evangélico sabe muito bem que há muito mais coisas deploráveis sendo feitas em diversas igrejas no país e que não são denunciadas ou, até mesmo, não apuradas devido aos conchavos políticos existentes nesse meio.

Não é de se espantar que tanto o pastor quanto a cantora gospel tinham um discurso fundamentalista, daquele que considera tudo que vai contra a cartilha que pregam como pecaminoso, vil e corrupto. A própria cantora já afirmou ser contra o aborto por considerá-lo como assassinato (irônico, não?), afirmando-se, portanto, como defensora da vida e da família. Era tão defensora da união conjugal aos moldes divinos que chegou ao ponto de afirmar que não se divorciaria porque escandalizaria o nome de Deus.

Da mesma forma, na mesma tara que o movimento fundamentalista cristão tem por questões sexuais, o pastor acusado de corrupção já mostrou posturas nessa linha, como, por exemplo, dizer que as relações homoafetivas destroem a família, mesmo tendo sido condenado na primeira instância após sua ex-mulher levar ao STJ um processo em que o acusa de agressão física, seguida de ameaça de morte. Ainda que o processo tenha sido revertido e agora esteja em Brasília, tal fato parece indicar que o padrão de família desejado por tal pastor seja o da submissão feminina e das agressões familiares tão comuns na família tradicional brasileira.

Algo importante de ser lembrado também é que tal pastor foi o mesmo que batizou o atual presidente do país que segue com seus discursos de ódio, suas posturas nazifascistas, seu negacionismo à ciência, falta de incentivo para o combate à pior pandemia pela qual passamos e que fez o país alcançar a marca de mais de 115.000 mortos, e ainda com a família envolvida em diversos casos de corrupção.

Somente esses dois casos citados já serve de exemplo para revelar um tipo deprimente de movimento evangélico que existe no país e que, infelizmente, é aquele que tem alcançado o poder executivo, legislativo e judiciário, de maneira que se mostra como o “rosto do movimento evangélico” que muitas pessoas veem.

Ora, se é esse o evangelho desejado por essas lideranças, e se o deus pregado por elas é aquele que em seu nome se pode matar, condenar, discriminar, torturar, silenciar, coagir, chantagear, roubar e corromper, tal divindade anunciada por essas pessoas se mostra até mesmo pior do que os antigos deuses das nações ao redor de Judá, que exigiam o sacrifício de seus filhos e filhas para aplacar sua ira, ou ainda aqueles que demandavam as prostituições cultuais por parte dos sacerdotes e sacerdotisas para que pudessem mandar a chuva para as colheitas e prover filhos para o povo.

Da mesma forma, se é esse o deus anunciado pelo movimento evangélico fundamentalista, então é tarefa da teologia cristã anunciar e incentivar o ateísmo como resposta. Afinal, esse não é o Deus a quem Jesus chamou de Pai, que ama a todos e todas indiscriminadamente, que não exige nada em troca para abençoar, que convida a todos e todas para a participação na sua vida, que se mostra ao lado dos fracos, dos oprimidos e dos que têm fome e sede de justiça.

Esse ateísmo que nasce a partir da negação desse deus anunciado por essas lideranças evangélicas pode ser o início de um movimento de profunda transformação do movimento evangélico e, talvez, o único caminho possível para a retomada da narrativa cristã por parte do movimento evangélico brasileiro.

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