O teólogo e a teóloga em tempos de crise
Recentemente foi noticiado o pedido de perdão feito pelo líder religioso Man-Hee, da igreja sul-coreana Shicheonji que foi responsável, segundo a reportagem, por cerca de metade dos casos de coronavírus na Coréia do Sul. O líder é acusado de não revelar os nomes dos seguidores da igreja e, assim dificultar o rastreamento da doença (cf. https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/03/02/coreia-do-sul-denuncia-lider-religioso-por-obstruir-investigacao-de-novos-casos-de-covid-19.ghtml).
Em terras brasileiras, por sua vez, Silas Malafaia também num primeiro momento se recusou a interromper seus cultos, conseguindo na justiça do Rio de Janeiro que eles acontecessem. Contudo, alterou seu posicionamento com relação aos cultos, mantendo, no entanto, as suas igrejas abertas, pois, segundo ele: “Tem uma coisa: eu vou ampliar a hora de igreja aberta, que igreja aqui não vai ficar fechada, não”. (https://noticias.uol.com.br/colunas/chico-alves/2020/03/20/silas-malafaia-anuncia-que-vai-suspender-cultos-por-causa-do-coronavirus.htm?cmpid=copiaecola)
Esses dois casos, embora ocorridos bem distantes um do outro revelam o quão irresponsável as lideranças religiosas podem ser por acharem que estão fazendo a vontade de Deus em determinado lugar.
Essa irresponsabilidade, por sua vez, como no caso da Coréia, acarretou em uma contaminação maciça no país e, no caso do Rio de Janeiro, ainda não temos dados suficientes para avaliar o impacto dessas grandes reuniões que só foram encerradas a partir de alguns dias. Mas, como mostra o histórico sul-coreano, não parece que virão boas notícias.
Diante disso, é importante lembrar o papel fundamental que uma teologia pública de qualidade tem. Infelizmente, por falta de conhecimento teológico e bíblico, são milhares de pessoas que acreditam que deixar de ir a um culto, ou não fazer determinada celebração no templo as afastam de Deus, ou que as tornam pessoas de pouca fé.
Muitas dessas pessoas, por sua vez, têm o coração sincero, querendo servir a Deus com todo seu empenho e, dada a ausência de instrução, acabam se colocando em lugares que não deveriam estar, dando o que não deveriam dar e fazendo o que não deveriam fazer em momentos de crises, tal como o que passamos neste momento.
Uma teologia cristã bem fundamentada, séria, e que consegue chegar aos lugares onde essas pessoas estão é fundamental nesse momento. Em outras palavras, fazem-se cada vez mais necessárias teologias comprometidas com o Evangelho, que saiam dos gabinetes e alcancem as camadas da população que, na maioria das vezes, jamais terão acesso aos dicionários críticos de teologia, ou aos textos comparativos dos manuscritos de Mateus e por aí vai.
Propor essas teologias, por sua vez, é papel do teólogo e da teóloga que se reconhece como chamado a exercer seu papel na sociedade para que ela se torne mais consciente, justa e livre.
Em tempos de calamidade como a que vivemos nesse momento, urge-se fazer teologias comprometidas com o Evangelho que alcancem às pessoas para que elas não sejam levadas ao abismo por líderes religiosos que, aproveitando-se da ignorância de muitos, enriquecem seus bolsos enquanto matam seus fieis.