Ausência de uma teologia pública como força para o neopentecostalismo

Ausência de uma teologia pública como força para o neopentecostalismo

É notório o crescimento do movimento neopentecostal em solo brasileiro. Não é difícil encontrar em cidades do interior ou em bairros periféricos das capitais algumas dessas igrejas que compõem o espectro do neopentecostalismo. Recentemente, espalhou-se a notícia da inserção desse movimento nos meios armados. No âmbito político, são diversos os representantes desse segmento, bastando para isso contar a quantidade de deputados e senadores que compõem a famosa bancada da Bíblia, ou ainda, nas capitais, atentando-se para o fato de que o prefeito da cidade do Rio de Janeiro é pastor de uma dessas igrejas.
Tudo isso é muito preocupante, uma vez que o neopentecostalismo, ancorado em uma teologia da prosperidade, angaria para si diversas pessoas que acreditam que Deus é um Deus que barganha, bem como pessoas simples e humildes, que, fruto de uma educação religiosa muitas vezes mal feita, acreditam que tudo que o pastor fala é verdade e que se não o obedecerem irão para o inferno, ou passarão algum perrengue na família, ou não virá aquela cura para o familiar enfermo etc, o que, sem dúvida, mostra-se como prato cheio para charlatões da fé que enganam essas pessoas para enriquecimento próprio e promoções eclesiásticas dentro dessas igrejas.
Esse alastramento do neopentecostalismo também revela algo muito importante, que vem a ser a ausência de uma teologia pública no país. Historicamente, a teologia sempre foi vista no Brasil como algo ligado somente à igreja, ao clero e às ordens religiosas. Ainda hoje, é muito comum que as pessoas pensem que o estudante e a estudante de teologia fazem tal curso porque querem se tornar pastor, pastora ou padre. Esse tipo de visão, aliado também à falta de incentivo que muitas igrejas, sejam católicas, sejam protestantes, deixam de dar a seus membros contribuem para uma visão deturpada do que vem a ser e para que serve o estudo teológico, filosófico e religioso.
Uma das consequências disso é o que vemos hoje com o crescimento de charlatões da fé tanto no meio católico, quanto no meio protestante. Se houvesse uma teologia pública no país, ou seja, o curso de teologia ou o curso de ciência da religião sendo ofertados nas diversas faculdades e universidades públicas do Brasil, acessíveis a todas as pessoas que se interessassem pela temática, possivelmente movimentos de características neopentecostais e charlatanismo religioso teriam certa dificuldade de crescimento, uma vez que a produção de pesquisa e informações a respeito desses movimentos teriam maior capilaridade entre as classes sociais mais baixas, seus alvos principais.
O crescimento do neopentecostalismo em níveis alarmantes, sua entrada nas diversas esferas do poder político e eclesiástico, propondo leis, influenciando nas tomadas de decisão, nas políticas públicas e nas conduções de cultos e missas, se não combatido, causará (como já tem causado) um retrocesso imenso para a sociedade brasileira e para os avanços sociais e políticos conquistados a duras penas pelas pessoas que lutaram por eles.
É tarefa teológica denunciar o mal que o neopentecostalismo tem feito à sociedade, vendendo um deus muito diferente do Deus cristão e impondo sua agenda fundamentalista, retrógrada e conservadora em diversas igrejas e cidades espalhadas pelo país.
O Deus anunciado por Jesus ama a todos e todas e faz o bem a bons e maus, independentemente daquilo que possam dar em troca. É, portanto, um Deus de graça. O neopentecostalismo, com sua pregação de barganha, mostra-se, assim, como movimento que prega a anti-graça, o famoso toma lá, dá cá, contrário a todo e qualquer ensinamento de Cristo.
Dessa forma, visto que a teologia visa responder às questões do tempo na qual está inserida, é seu dever expor as vísceras do neopentecostalismo e combater seu discurso enganador e perigoso que tem se levantado com força na atualidade.

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