Eu sei o sentido do Natal?
Hoje, dia 25/12/2019, comemora-se dentro da cultura ocidental o dia do nascimento de Jesus Cristo. Essa data, talvez a preferida de muitos no ano, é também a preferida por grande parte do mercado, que vê suas vendas irem às alturas devido às grandes propagandas que dizem ser necessário dar um presente de Natal para amigos, familiares e pessoas queridas. Nada contra o recebimento e a doação de presentes, contudo, todas as pessoas que se dizem cristãs sabem que não é esse o sentido do Natal.
Na verdade, é muito comum nesta época vermos, em redes sociais, diversas frases que remetem ao real sentido do Natal. Nelas se fala do menino na manjedoura ou da estrela que indica o nascimento de um rei. Os mais empolgados até citam o lindo texto de Isaías 9,6 (9,5 em algumas versões do texto bíblico, que, na verdade, trata do rei Ezequias que nasceria para a continuidade do trono de Davi). A passagem diz que “uma criança nasceu para nós, um filho nos foi dado. A soberania repousa nos seus ombros. Proclama-se o seu nome: Conselheiro Maravilhoso, Deus Forte, Pai para sempre, Príncipe da Paz”. Seu intuito é afirmar que não se trata de uma data qualquer, mas a do nascimento do Salvador, que veio ao mundo e, por isso, não se deve dar tanta atenção aos presentes, mas homenagear ao aniversariante.
Embora as frases e imagens nas redes sociais digam isso, é muito comum perceber que diversas pessoas que as escrevem têm atitudes que seguem na contramão de toda a mensagem trazida por Jesus. Ao longo do ano elas pensam somente em si mesmas, sem se importar com os desfavorecidos da sociedade, considerando todos como vagabundos. São aquelas que afirmam que bandido bom é bandido morto, esquecendo-se que o rei que anunciam no Natal é o mesmo que foi condenado e morto como bandido. São as que imaginam um Jesus armado na sociedade. As mesmas a afirmar que os que estão passando necessidade, sem o que comer ou se vestir, assim o estão porque não se esforçam o suficiente e não querem trabalhar, querendo somente ser sustentado pelo governo. São as que estão sempre brigados com seus familiares, não perdoando e não oferecendo o perdão. Apoiam as guerras e a destruição de terreiros, perseguindo religiões que não são as mesmas que as suas, dentre tantas outras frases e atitudes que, ao longo do ano, revelam-se como ditas e feitas por alguém que não compreendeu a mensagem de Natal.
Infelizmente, tais pessoas somente acham a cena bonita e a mensagem altruísta, sem, contudo, estarem dispostas a assumir seu significado para as próprias vidas. Encontraram o presépio e um menino envolto em um lençol deitado numa manjedoura e nada mais. Saíram do encontro com uma fotografia para se lembrarem do momento, mas isso não mudou em nada seu comportamento para com o mundo, não afetou a sua forma de ver a realidade.
Em outras palavras, não compreenderam o real sentido do Natal, que é mostrar que Deus se encontra na simplicidade e na marginalidade, longe dos holofotes, das pompas, dos grandes banquetes e da realeza; que Ele nasce humilde, humano junto com os mais pobres, com os desfavorecidos, revelando que o rosto de Deus se mostra nestes, pois é a eles que o Reino de Deus é revelado.
Compreender o sentido do Natal, dessa forma, vai além de frases em redes sociais e desejos de paz na terra entre as pessoas de boa vontade. Implica ação em combate às mazelas que afligem os mais pobres e desfavorecidos, implica a luta para que as desigualdades sejam desfeitas, implica considerar injusto e pecaminoso que haja uma pequena parcela com muitas riquezas e a maior parte vivendo em condições sub-humanas, implica o viver em paz com todas as pessoas, perdoando e aceitando ser perdoado, implica a tolerância religiosa para com irmãos e irmãs de outras religiões. Somente com atitudes que vislumbram a igualdade social, a garantida de direitos aos mais pobres e desfavorecidos, bem como às religiões marginalizadas de nossa sociedade é possível dizer que se compreendeu o sentido do Natal.
Do contrário, a cena natalina não passará de uma cena bonita a ser guardada após o início do ano para ser relembrada e exaltada no final do próximo ano. Em outras palavras, o Natal, que deveria ser todo dia, passa a ser somente o dia 25/12 e nada mais.