Uma teologia que pensa a partir do humano
O humanismo é um movimento que surge no final do século XIV, tendo como fundador Petrarca. Em sua origem, seu intuito era de pensar a cidade a partir das categorias humanas e não a partir das categorias da Igreja da Idade Média. Nesse sentido, esse humanismo nasce com um projeto de um novo homem que se desenvolveria por meio do estudo da filosofia e da retórica.
Uma das grandes características do humanismo em seu nascimento foi o questionamento acerca dos autores que eram considerados canônicos naquele período, tais como Aristóteles e Cícero. Estes, ao invés de serem vistos como sumidades e não passíveis de contestações passaram a ser vistos como humanos que eram e, por este motivo, podendo ser questionados e até mesmo reinterpretados por outros humanos, que não limitados pela antiga escolástica.
O humanismo, assim, foi o grande responsável por todo um desenvolvimento acontecido ao longo da Idade Moderna, lançando as bases de grandes transformações que ocorreriam posteriormente, até mesmo na forma de se fazer teologia.
Esta, em tempos atuais, sem desconsiderar o transcendente, tem uma consciência muito maior do papel que o ser humano desempenha no fazer teológico e no próprio conhecer a respeito de Deus. Afinal, o Deus cristão é um Deus que se fez carne e habitou entre nós, de maneira que pensar o ser humano enquanto ser de carne, possuidor de um corpo e, por isso mesmo, tendo dignidade em si mesmo, é ponto de partida de qualquer antropologia que se diz cristã.
Com isso em mente, é tarefa da teologia recuperar diariamente os valores humanos a fim de poder, justamente, falar de Deus, visto que uma teologia que não leva em consideração as diversas situações da vida cotidiana, nem o modo de viver de cada cultura, ou ainda o próprio sofrimento não pode ser considerada cristã.
Nesse cenário, uma teologia que quer se dizer cristã necessita voltar seu ouvido para as questões que têm sido perguntadas na atualidade para, então, propor respostas que contribuam para o desenvolvimento e maior humanização da sociedade, sendo nesse contexto em que se colocam as questões de gênero e LGBTQI+.
Em um país no qual mais se mata pessoas LGBTQI+ e no qual os casos de feminicídios aumentam de forma vertiginosa, apoiado por diversos movimentos fundamentalistas e machistas, torna-se impensável uma teologia que se preocupa somente com o transcendente e não volta seu olhar para o sofrimento dessas pessoas, buscando assegurar a dignidade delas por reconhecer que também são a imagem de Deus.
Essa teologia, por sua vez, precisa ser feita a partir das categorias de nossa sociedade, bem como ser também descolonizada, a fim de poder criar suas próprias respostas para as situações que os povos do sul vivem, e não somente importar teologias de outras realidades, principalmente europeias e norte-americanas, que muitas vezes, não tocam problemas que somente os países do hemisfério sul sofrem.
Nesse contexto, e com o intuito de pensar as categorias de gênero, decolonialidade e humanismo que o grupo de pesquisa Teologia e Diversidade Afetivo-sexual, da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia propõe para o dia 23/10/2019 rodas de conversa sobre essas temáticas, nas quais pessoas que as estudam estarão presentes e as discutirão sob diversos prismas.
Você é, portanto, convidado e convidada do grupo de pesquisa para este evento.