O grito pela moralidade e o silenciamento para com as injustiças
Que a moralidade seja uma das réguas mais usadas pelo cristianismo para se mensurar o quão uma pessoa está perto de Deus é algo que já mostramos em outro texto que escrevemos neste blog. Essa moralidade, por sua vez, é mais facilmente percebida em algumas áreas do que em outras, sendo a questão da sexualidade o lugar em que essa régua pode ser facilmente identificada.
Qualquer pessoa que cresceu no movimento evangélico da década de 90 se lembrará da grande repressão sexual que houve nesse período e que, ainda hoje, mostra-se como marca característica de todo movimento de cunho fundamentalista, tendo alcançado também parte do catolicismo atual.
A moralidade sexual constantemente se mostra como a bandeira de todo moralista cristão, sendo ela a base preferida para ser contra diversas questões da atualidade, tais como a homossexualidade, transexualidade, bissexualidade, e todo o espectro das pautas LGBTQI+ e, ao mesmo tempo, em casos extremos, ter um discurso relativo ao sexo que beira à Idade Média, em que este deve ser somente para a reprodução, que todo prazer sexual deve ser condenado porque não pode agradar a Deus e por aí vai.
Ao mesmo tempo, essa moralidade tão cara a todo movimento fundamentalista cristão tem sido, ao longo do tempo, instrumento eficaz para opressão de diversas pessoas, visto fazer com essas se sintam constantemente vigiadas por um Deus que se preocupa exacerbadamente com esse tipo de questão.
Ao mesmo tempo, porém, esse discurso da moralidade sexual tão alardeada e promulgada pelos movimentos fundamentalistas, que faz com que muitas pessoas se considerem como exemplo de cristãos, cidadãos de bem numa sociedade corrompida, é o mesmo que fecha os olhos para as violências do cotidiano, tais como a matança de crianças que ocorre com a política genocida do atual governo do Rio de Janeiro, ou ainda contra a violência doméstica cometida por inúmeros pastores que antes do culto batem na esposa e nos filhos para depois subirem no púlpito e pregar que Deus quer pessoas que sejam exemplares na sociedade.
O moralismo que grita contra a causa LGBTQI+ é o mesmo que se silencia com relação à prostituição infantil, aos abusos sexuais cometidos pelos pais ditos cristãos contra as suas filhas, ou ainda contra a violência que se faz contra o pobre. Dessa maneira, enquanto o grito moralista prega uma dita “santidade sexual” fecha os olhos e os ouvidos para aqueles e aquelas com quem Deus, em Jesus Cristo, se identificou, a saber, os marginalizados e marginalizadas da sociedade.
Com isso em mente, deveria ficar claro para toda pessoa que se diz cristã que a santidade exigida por Deus não tem a ver com o moralismo tão comumente pregado pelos fundamentalistas atuais. Muito pelo contrário, a santidade requerida por Deus se mostra no amor ao próximo, no auxílio dos necessitados, na alimentação do faminto e na luta pelos direito dos desfavorecidos, sendo esse amor o critério para identificação das pessoas que realmente seguem os passos de Jesus de Nazaré.
No cenário atual em que vivemos torna-se urgente recuperar as bases do ensinamento de Jesus, aquele que sempre foi um péssimo exemplo de moral para sua sociedade e que se vivesse hoje, seria novamente condenado pelos movimentos religiosos fundamentalistas e moralizantes de nosso tempo por ser considerado péssima influência para a comunidade santa que preza pela moral e os bons costumes.
A voz de Deus, no entanto, continua a clamar em favor daqueles e daquelas que são constantemente explorados e perseguidos e não é por coincidência que aqueles que gritam constantemente pela moralidade sejam aqueles e aquelas que não conseguem ouvir esse clamor que sai do coração de Deus.