Considerações sobre filosofia e religião
Embora possa parecer estranho, ainda é muito comum no meio cristão o pensamento de que o estudo da filosofia é algo prejudicial para fé cristã. Não é difícil se ouvir testemunhos de pessoas cristãs que foram fazer filosofia e a primeira coisa que ouviram foi a respeito do risco de se perder a fé.
Aqueles e aquelas que fazem esse tipo de ponderação, na maioria das vezes, ignoram que a filosofia sempre foi necessária para o fazer teológico e para o pensar a própria religião. A própria religião cristã é uma prova disso. Conceitos como consubstancialidade, Trindade, Pessoa, dentre outros que são comumente utilizados em textos, homilias, orações e pregações vieram a partir da reflexão filosófica e interpelações feitas por este saber à questão religiosa.
Sem filosofia dificilmente se chegariam a um arcabouço teórico sobre a fé cristã no Ocidente. Por causa disso, ignorar sua preciosidade para a fé e para as religiões no geral é motivo de grande tristeza e que somente interessa aos que desejam uma religião cega e fundamentalista, que não reflete sobre o mundo e sobre seu próprio lugar na construção de uma sociedade melhor.
Que a filosofia também sempre foi uma inquiridora das religiões também não podemos negar. Os questionamentos levantados a respeito dos conceitos utilizados, bem como com relação aos poderes de alienação que diversas religiões trazem consigo sempre foi motivo para o embate entre filosofia e religião, mas também para o diálogo produtivo e enriquecedor que aquela traz a esta, de maneira que ambas possam andar juntas compartilhando visões de mundo e auxiliando uma à outra a compreender melhor tanto os fenômenos humanos quanto também os conceitos utilizados nos diversos arcabouços teóricos utilizados.
Falar de uma filosofia da religião, então, traz consigo tanto os aspectos de caráter metafísico e ontológico, quanto também questões existenciais e antropológicas das diversas formas religiosas existentes na sociedade contemporânea. Longe de ser uma tentativa de justificar a religião com base em argumentos racionais (como era muito comum na Idade Média), a filosofia da religião tenta compreender a religião e o fenômeno religioso em suas diversas camadas e, nesse sentido, continua se mostrando como extremamente útil e basilar para o pensamento teológico.
Sem a filosofia para a interpelação da religião corre-se o risco de voltar-se a um fundamentalismo religioso nos moldes que o Ocidente vivenciou na Idade Média, na qual o que se valia era a pregação dogmática que usava a filosofia como serva para justificar os diversos abusos e teorias que eram feitos em nome de determinado poder vigente.
Com essas questões em mente, o estudo da filosofia deveria ser estimulado a todas as pessoas e, principalmente, àquelas que desejam seguir no estudo das religiões, seja no campo da teologia, seja no campo das Ciências da Religião. Com certeza, suas interpelações, quando bem compreendidas servem para se pensar em como tentar entender o fenômeno religioso e o afetar dele nas diversas esferas políticas, sociais, culturais e, até mesmo, religiosas de determinada sociedade.
Negar o estudo da filosofia ou desmotivar tal estudo só é exaltado por aqueles e aquelas que desejam dominar sobre mentes que não refletem, utilizando-as como massa de manobra para efetuar práticas reprováveis a uma sociedade pensante.
Assim, não é de se admirar que grande parte do pensamento fundamentalista cristão considera o estudo de filosofia como besteira. Afinal, como bem sabemos, um povo que não pensa, é sempre mais fácil de ser dominado.