O neopentecostalismo na produção de messias políticos
O neopentecostalismo é um fenômeno recente na história do cristianismo contemporâneo. Fruto do movimento pentecostal brasileiro que surge por volta do início do século XX no país, o movimento neopentecostal é caracterizado como um movimento da terceira onda do pentecostalismo, que se inicia por volta das décadas de 70-80. A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), liderada por Edir Macedo é o carro chefe desse movimento, que tem como bandeira a luta contra as forças demoníacas, principalmente aquelas que consideram estar nas religiões de matrizes africanas, mas também aquelas que causam doenças, males familiares, financeiros e sentimentais. Grande difusor da teologia da prosperidade, que afirma que a benção financeira é o resultado de sua fidelidade a Deus nos dízimos e ofertas, de maneira que essa fidelidade é uma garantia de que Deus irá abençoar ao que dá, sendo até mesmo uma espécie de contrato que pode ser requerido de Deus caso ele não o cumpra. Em outras palavras, nessa teologia está a ideia de que a fidelidade humana nos dízimos e ofertas garante e, até mesmo, obriga que Deus seja fiel a você, resolvendo suas questões familiares, financeiras, sentimentais etc.
O neopentecostalismo, em sua suposta luta contra o mal que vem de fora, levanta um problema ainda maior que deve ser visto com um olhar atento. Uma vez que esse movimento tem claro para si que há um mal, vindo da parte do diabo, a ser combatido na sociedade e que precisa ser vencido para que o nome de Deus seja glorificado e ele seja o senhor da nação, não é difícil amarrar a esse discurso que determinada ocasião está sendo usada pelo diabo para esmorecer o povo de Deus. Da mesma forma, não é difícil que determinada agenda política seja definida como algo diabólico e, portanto, contra a vontade de Deus, que por este motivo, demanda que seu povo, que quer ser fiel a ele, lute contra isso.
Com esse pano de fundo criado (um mal a ser vencido e uma guerra espiritual travada entre o povo de Deus e as ações do maligno) não é difícil de perceber o porquê que surgem, a partir do discurso neopentecostal, diversos messias políticos que, em nome de Jesus, afirmam que restaurarão a nação para o caminho da justiça, da ética e da moral.
É claro perceber que a dinâmica utilizada por eles é a mesma dos discursos neopentecostais. Num primeiro momento, afirmam que determinada situação está horrível, que é um absurdo que a moral tenha sido deixada de lado, que há uma força do mal agindo para desvirtuar as pessoas do caminho do bem. Num segundo momento, colocam-se como o representante de Deus, enviado por ele para resolver os problemas da nação e, por último, pede o apoio do povo de Deus para que possa alcançar o poder e, uma vez lá, poder exercer a vontade de Deus na transformação da sociedade.
Esse discurso, que na última eleição, levou inúmeras pessoas despreparadas para as cadeiras do Congresso Nacional, Senado, Ministérios e Presidência, mostram o tamanho da força dos movimentos neopentecostais na criação de messias políticos, que contam com o poder de influência que pastores e pastoras têm sobre as pessoas, muitas vezes simples, que frequentam essas denominações na busca legítima de serem aliviadas de seus sofrimentos.
O Evangelho, porém, mostra que o Messias enviado por Deus não seguia por esta via. Seu poder não se mostrava na ordem do domínio político, nem foi seu desejo se tornar o soberano do povo de Israel. Muito pelo contrário, seu messianismo se deu em abrir os olhos aos cegos, evangelizar os pobres, pregar liberdade aos cativos, libertar os oprimidos e anunciar o ano aceitável do Senhor, o que muito se afasta de um plano de poder.
Diante disso, a criação de messias políticos, bem como a teologia da prosperidade, não têm a ver com o Evangelho anunciado por Jesus, sendo, antes, na maioria das vezes, objeto de engano que visa o uso de pessoas com coração disposto a seguir o Evangelho, para levar ao poder diversos charlatões da fé. Algo que, infelizmente, mostra-se como realidade do nosso país hoje.