Somos diferentes e estamos todos no mesmo bojo: a religião como convite à tolerância e ao respeito mútuo.
Em um mundo onde cada vez mais se cresce a intolerância para com tudo aquilo que não condiz com determinada forma de pensar, repensar o papel da religião se torna tarefa importante. É sabido da grande força que a religião tem nas diversas culturas. Ela é, muitas vezes, o carro chefe de onde partem as posturas intolerantes no meio da sociedade, frutos de uma visão exclusivista que desenvolve a respeito de si mesma e de seu seguidores. Nesse sentido, a religião pode ser usada tanto para o bem como para o mal.
Curiosamente, ao tomarmos o termo Religião, que vem do latim religare, é possível perceber que o “religar” está na essência dessa palavra. Mas, religar com o que? Toda religião, seja ela de qual cultura for, tem o intuito de religar a humanidade com o divino. Desde os primórdios da sociedade tem-se notícia de diversos mitos que contam sobre a separação entre o divino e o humano que, por sua vez, tem que executar diversos rituais de culto, adoração e purificação para, de alguma forma, obter o favor dessa divindade para que essa mande chuva em tempo certo para as colheitas, conceda vida próspera e família numerosa etc. Em outras palavras, por meio das práticas rituais, cada religião tenta, a seu modo, religar-se com o divino.
Com o advento da Modernidade, esse caráter mítico e essa necessidade religiosa foram sendo considerados cada vez mais “desnecessários” e, de alguma forma, vistos como algo primitivo demais e que precisava ser superado. No Ocidente, então, isso se mostra de maneira mais clara quando se vê a reação de diversas pessoas aos rituais indígenas ou aos diversos rituais das religiões orientais. No caso dos indígenas, não raras as vezes, eles são chamados de povos sem conhecimento e a falta de respeito aos seus rituais é constante por parte da sociedade.
Contudo, compreender a religião como tentativa de se religar ao divino, ao contrário de ser um pensamento que converge para o exclusivismo, mostra-se como um convite à tolerância e ao respeito, valores esses, ironicamente, aclamados pela Modernidade. Isso porque o pensar dentro da esfera religiosa coloca todos/as no mesmo bojo e na mesma condição, a saber, que todos/as estão em busca de uma maior relação com aquilo que cada uma delas entende como divino. Nesse sentido, no cerne da religião está o convite de se ver como parte da mesma humanidade que precisa buscar determinada divindade, tanto para ter uma vida em paz na Terra, como também para se conhecer melhor nesse vasto universo, encontrando a razão de sua própria existência.
Do mesmo modo, uma vez que toda religião nasce dentro de uma cultura específica, com sua linguagem e simbolismo próprios, reconhecer-se como pessoa seguidora de uma religião, implica ver-se como membro que se insere em um determinado processo cultural que, obviamente, dada as condições de tempo e espaço, serão, muitas vezes, diferentes entre si, o que por si só abre o leque para o olhar tolerante para com os pensamentos e visões divergentes que cada religião possui.
Assim, reconhecer-se como pertencente ao mesmo grupo é a base para o respeito mútuo e o reconhecimento da diferença de pensamento que surge devido à cultura em que cada um está inserido, a base para a tolerância.
Com isso em mente, ser seguidor/a de determinada religião não deveria ser motivo para brigas e discussões a respeito de qual delas é melhor ou pior, antes, deveria ser motivo para se propor um diálogo no qual seja possível aprender com visões diferentes para a promoção da paz e da vida em suas diversas formas, bem como para resolver os problemas que afetam a toda humanidade, tais como a crise ecológica, a iminência de guerra nuclear, a fome, a miséria, o problema dos refugiados, dentre tantos outros que são vistos diariamente nos noticiários ao redor do mundo.