Respostas para perguntas não feitas: risco e erro do Cristianismo atual
Um dos grandes riscos e também erros da teologia cristã atual é o de propor respostas para perguntas que não lhes foram feitas e que, dessa forma, não interessam em nada à sociedade contemporânea.
Se voltarmos à história do Cristianismo, é possível perceber que os debates que ocorreram nos primeiros séculos, tais como aqueles a respeito da divindade de Jesus, ou o problema das duas vontades em sua pessoa, ou aqueles que discutiam a divindade do Espírito, ou ainda, aqueles concernentes à cristologia de Ário, dentre tantos outros que poderiam entrar nessa lista, tinham em vista defender a fé cristã e dar respostas às perguntas feitas pela sociedade daquele tempo. Ou seja, as respostas cristãs surgiam à medida que as perguntas e acusações lhes advinham.
Com o passar do tempo, essa preocupação apologética, que de início era uma defesa da fé e resposta aos questionamentos exigidos por parte da sociedade à nova religião que surgia, transformou-se, principalmente na Idade Média, na preocupação em determinar quais perguntas poderiam ser feitas pela sociedade (se é que alguma pergunta real poderia ser feita naquele período?) e quais respostas que deveriam ser dadas para essas mesmas perguntas. Assim, o Cristianismo saiu de uma postura teológica de ouvir para responder e seguiu por um posicionamento doutrinal de dizer o que é certo e o que é errado sem ser perguntado e condenando tudo e todos que iam contra sua própria doutrina.
Hoje em dia, em muitos lugares, é possível perceber que essa postura continua. Tem-se presenciado o crescimento de um Cristianismo mais preocupado em legislar sobre a sociedade do que em levar a boa nova do Evangelho. Em outras palavras, cresce-se um Cristianismo doutrinal e preocupado em dizer dogmas que, muitas vezes, não fazem mais sentido para a sociedade em que se está no lugar de um Cristianismo disposto a ouvir e ver a realidade do povo que sofre para, mediante isso, propor respostas e lutar em favor desse povo sofredor.
Agindo assim, o Cristianismo deixa de ser resposta teológica para se transformar em resposta dogmática, fugindo de tudo aquilo que foi ensinado por Jesus. Ao mesmo tempo, e também como conseqüência disso, passa a propor respostas para perguntas não feitas e torna-se uma religião do passado, esquecendo que propor o seguimento de Cristo tem a ver com ser conectado com o presente e com as questões desse tempo, envolvendo-se com elas e as vivenciando de forma intensa. Dizendo de outro modo, significa recuperar para si a verdade da encarnação, de viver a carne do mundo para, nele, mostrar a mensagem da boa nova de que Deus ama e se importa com a humanidade e sua Criação.
Ao fazer isso, ouvir as questões atuais, voltar o olhar para a realidade do mundo e sua mazelas, lutar em favor daqueles que sofrem e contra a desigualdade que impera nessa terra, propondo respostas e alternativas de inclusão, igualdade, justiça, paz e comunhão não será uma tarefa estranha, antes, mera conseqüência de assumir o caráter encarnacional do chamado do Evangelho de amar uns outros, sendo semelhantes ao nosso Pai que está nos Céus.