Será que temos alvos tangíveis para o novo ano?
Um novo ano chegou e para muitos evangélicos ao redor do país foi o momento de preencher os alvos para 2018. Para os que não são familiarizados com esse costume, exponho brevemente: na maioria das igrejas evangélicas é comum distribuir um folder em que constam espaços para o preenchimento dos alvos para o próximo ano. Esses alvos são feitos por área da vida e, na maioria das vezes, essas áreas são a familiar, espiritual, financeira, trabalho e pessoal. Assim, na virada, que geralmente é acompanhada por um culto especial que começa mais tarde da noite, há o momento de oração em que se coloca nas mãos de Deus esses alvos para, assim, entrar o ano na presença do Senhor.
Esse ato, claramente, é simbólico. Não é pelo fato de escrever os alvos e apresentar a Deus que automaticamente ele se tornará realidade. Acredito que a maioria da população evangélica também o vê dessa forma, embora não duvide que haja aqueles/as que vêem esse ritual como algo mágico e que ainda pensam que o poder das transformações está no folder e não na atitude que cada um precisa ter para tornar os alvos realizáveis.
Esses alvos, porém, muitas vezes, são feitos sem se preocupar com quão tangíveis ele sejam. Muitas pessoas, motivadas por essa imagem de esperança que todo nascimento de um novo ano traz, se empolgam em suas resoluções de Ano Novo e preenchem o folder com alvos que, com um pouco de atenção, seria visto como não realizável. É comum, principalmente na questão financeira, ter como alvo fazer uma poupança no próximo ano e conter mais os gastos. Isso, sem dúvida, é uma boa resolução, ainda mais no país que ainda sofre as conseqüências do golpe de 2016 e se abre cada dia mais para uma economia neoliberal. O problema está quando essa meta é muito acima daquilo que é possível ser economizado ao longo do ano. Não adianta falar que se fará uma economia de R$ 120.000,00 no ano se aquilo que se recebe por mês está longe de ser os R$ 10.000,00 necessários para se guardar mensalmente na poupança para chegar no final do ano com a quantia estabelecida. Os alvos devem ser tangíveis. Para isso, estabelecer metas mais fáceis de serem alcançadas se mostra como boa tática para, com o tempo, alcançar metas maiores. Lembrando que ninguém com bom senso têm sua primeira experiência de corrida tentando correr uma maratona, mas correndo corridas menores, estabelecer alvos mensais menores se torna mais interessante. Com o passar do tempo, assim como a corrida, poupar será algo natural e simples, de maneira que, gradativamente, as metas dos valores economizados poderá aumentar.
Outra resolução comum no meio evangélico, principalmente na área espiritual, é dizer que se terá mais tempo com o Senhor, ou seja, que se investirá em tempo devocional de leitura bíblica e oração, que se freqüentará mais os cultos, que se envolverá mais em algum ministério e por aí vai. Nada disso, claramente é errado. Na verdade, é bom que haja todo esse envolvimento na vida cristã, contudo, algo que comumente é esquecido é que o compromisso com Deus é demonstrado no compromisso com o próximo e a intimidade com Deus é percebida por meio do nosso envolvimento com as causas dos pequeninos desse mundo e na luta por seus direitos. Dessa forma, estar mais perto de Deus não é somente ler mais a Bíblia e orar mais. Se isso não gerar em nós o assumir a causa dos pobres e necessitados, o sofrer com suas dores, o lutar para que a justiça lhes seja feita a fim de que lhes haja condições dignas de vida, trabalho, educação, moradia, alimentação etc, então o que se tem desenvolvido não é intimidade com Deus, antes, somente um olhar para si na busca de alguma “estrelinha” da parte de Deus. Isso mostra que conhecer as implicações da meta proposta é tarefa essencial para avaliar se se está disposto/a a ir atrás do alvo estabelecido.
Com isso em mente, somente esses dois exemplos, dentre os vários que poderiam ser citados, mostram-nos que se os princípios de tangibilidade e conhecimento de implicações estiverem presentes nas resoluções para o Novo Ano, há uma grande possibilidade que o preenchimento do folder não seja somente um ritual sem sentido, antes, um símbolo a ser trazido à memória ao longo do ano com o intuito de fazer com que se chegue aos alvos estabelecidos.