Teologia pública e o exemplo da Igreja de Atos
Uma teologia que quer ser ouvida e que seja demandada pela sociedade é uma teologia que se faz pública, se inserindo para o diálogo e crescimento mútuo nas diversas faces da realidade plural na qual vivemos.
Uma das possíveis bases bíblicas para se pensar essa temática se encontra no livro dos Atos dos Apóstolos, no qual o autor relata a experiência dos primeiros cristãos logo após a ascensão de Jesus, e como essa Igreja nascente se organizava, quais eram suas prioridades e como agia na sociedade. O capítulo 2, em seu final, nos mostra uma espécie de resumo do como essa Igreja primitiva vivia em seu início: Todos os que creram estavam juntos e tinha tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que tinha necessidade. Diariamente preserveravam unânines no templo, partiam o pão de casa em casas e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos. (At 2:44-47).
Algo que nos chama a atenção, principalmente sob a temática de uma teologia pública, está no fato de que, de acordo com o autor do texto, a Igreja “contava com a simpatia do povo”. Esse simples detalhe do texto se mostra de grande importância, uma vez que nos indica que a perseguição sofrida pelos apóstolos não se deu insuflada pelo povo, mas sim pelo movimento religioso judeu daquele período que, usando de sua autoridade na sociedade, tentavam vencer pela força o discurso da fé. Ao mesmo tempo, nos indica também que a forma de vida dessa Igreja era o que fazia com que o povo a visse com simpatia e se achegassem a ela pela mão do Senhor, testemunhando aquilo que Jesus havia dito há pouco tempo a eles de que “o mundo reconhecereis que sois meus discípulos se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,35).
Se tomarmos a Igreja de hoje, é possível perceber que essa, diferentemente da igreja de Atos, é vista por muitos dentre o povo com antipatia, dados os diversos casos terríveis que lhe são atribuídos, tais como os de pedofilia, os de roubo de altas quantias, os de abuso de autoridade, os de estelionato em nome da fé, dentre tantos que poderiam ser citados e são anunciados diariamente tanto pelas vítimas, quanto pela imprensa.
Ao mesmo tempo, ao se observar uma bancada que se diz evangélica no Congresso, e que, ao mesmo tempo, toma as posturas menos evangélica possível, ao se aliar aos que destroem a vida do pobre, tira direito dos trabalhadores, e apoiam um governo ilegítimo e corrupto ainda sob o discurso que foi da “vontade de Deus fazer isso”, é fácil perceber porque, para muitos, a Igreja e a teologia são vistas como inúteis e prejudiciais para a sociedade.
Seguindo o exemplo relatado no livro de Atos, uma teologia que se quer pública necessita enfrentar os diversos discursos contrários à fé evangélica que se escondem atrás de diversas lideranças sejam católicos, sejam protestantes.
Fazer isso implica em ser uma teologia e uma Igreja que ama, ou seja, que se importa com os pobres e marginalizados, que se envolve com as questões políticas, e que denuncia os abusos que são feitos em nome de Deus. Ao mesmo tempo, é preciso ser uma teologia e uma igreja que compartilhe o pão com os famintos, auxilie os que, no dia a dia, estão nos sinais pedindo moedas em troca de uma limpeza no vidro do carro, atente-se ao clamor dos moradores de rua que passam frio e fome de tempos em tempos.
Para uma teologia e uma igreja que compreendeu a experiência dos primeiros cristãos e também passou por uma experiência com o Ressuscitado, os dramas da sociedade nunca se tornam banais, sob a desculpa de que é assim mesmo e nada pode ser feito para se mudar essas situações.
Muito pelo contrário, é porque Ele ressuscitou que somos chamados a anunciar a vida no lugar da morte, anunciar a superabundância da graça no lugar da banalidade do mal, e o amor no lugar do ódio.