O que fazer com um Cristianismo em que se falta humildade, conhecimento e disposição?
Um dos princípios básicos para todos que querem entrar em um diálogo sobre qualquer tema é conhecer sobre a temática proposta. Somente assim é possível que se tenha uma conversa honesta e que produza algum conhecimento para ambas as partes envolvidas.
Para que haja isso, uma grande dose de disposição e humildade se mostram necessárias. Disposição, porque para se conhecer sobre determinado tema é necessário estudar sobre ele, independente do campo do saber. Para se aprender qualquer matéria é necessário que haja disposição e esforço para estuda-la, mesmo nos momentos em que não se está tão a fim assim de o fazer, uma vez que somente assim se é possível de se tornar um conhecedor apto a opinar sobre determinada questão de maneira a contribuir com ela. Essa disposição, aliada ao esforço do estudo, tende a gerar bons frutos.
Além desse tipo de disposição, há outro que também é demandado por parte dos dialogantes, a saber, a disposição em ouvir o outro lado da história, a fim de poder, mediante um conhecimento mais apurado da situação, poder emitir alguma posição a respeito. Esse tipo, porém, infelizmente, tem se mostrado cada vez mais raro em uma sociedade tão cheia de certezas e convicções.
Na mesma medida da dose de disposição, a dose de humildade se torna necessária, uma vez que somente a consciência de que não se sabe é que permite a busca do conhecimento acerca de determinado assunto. Assumir que se sabe tudo sobre determinada área e que não se precisa aprender mais nada é atestar que se está no longo caminho da ignorância.
Com isso posto, estabelecer a relação entre diálogo, disposição e humildade não parece algo muito difícil e a conclusão até parece ser algo que o próprio senso comum poderia dizer sem muita hesitação, ou seja, que para que haja diálogo é necessário que se tenha conhecimento sobre aquilo que se fala, disposição para ouvir o outro lado e humildade para reconhecer que nem sempre se está certo sobre determinada questão.
Aqui, se torna interessante a diferença que há entre aquilo que se sabe no discurso e aquilo que se faz na prática. Embora muitos dizem saber dos pressupostos para o diálogo, no dia a dia, não aplicam esses princípios, mostrando-se, constantemente como hipócritas que dizem uma coisa e fazem outra.
No ambiente cristão, infelizmente, esse tipo de postura se torna extremamente visível ao se tomar temas atuais como a “ideologia de gênero”, sobre o qual muitos se dizem contra sem terem o menor conhecimento sobre a questão, somente afirmando que Deus criou homem e mulher e que tudo isso é apenas uma desvirtuação devido ao pecado da humanidade e sem a menor disposição e humildade para ouvir pessoas com posições contrárias àquelas que se tem como certas e dialogar com elas.
Com isso em mente, não é de se espantar (embora se deveria) o ato vergonhoso ocorrido na Câmara de Belo Horizonte na semana passada, quando se criou uma bancada cristã para lutar contra a “ideologia de gênero”, a favor da “família tradicional” e contra as pautas LGBTTT.
Nesse sentido, tomando por base aquilo que se falou mais acima acerca de alguns pressupostos para o diálogo, tanto o conhecimento a respeito da questão, quanto à disposição para estudar e ouvir a posição do outro, e ainda, a humildade para reconhecer que sua interpretação pode estar errada, são jogados no buraco, restando somente os preconceitos estereotipados acerca de questões que matam e excluem milhares de pessoas no país.
Infelizmente, cresce-se o número dos que se dizem cristãos e que se negam a conhecer a respeito de temáticas complexas da atualidade por estarem certos de que estão do lado correto, mediante as interpretações aprendidas ao longo da vida. Ao fazerem isso, porém, se tornam discriminatórios e pregam um Cristo que exclui ao invés daquele “agregador” que se é mostrado nas narrativas dos Evangelhos.
Como mudar isso? Eis uma grande tarefa para a teologia da atualidade.