Pelo direito à liberdade religiosa – o caso da Rússia e os Testemunhas de Jeová
Na semana passada (abril/2017), a Rússia decidiu banir a religião dos Testemunhas de Jeová do país por considerar que essa é uma organização extremista e tem atividades que incitam o ódio contra outros grupos, caminhando, assim, de maneira contrária às leis do país. Essa decisão do governo russo implica que, a partir de agora, a prática da religião dos Testemunhas de Jeová será também criminalizada. Esse tipo de proibição já havia sido instaurado no governo de Stálin, mas foi revertida a partir de 1991, quando do fim da União Soviética.
Os Testemunhas de Jeová são extremamente conhecidos por seus métodos de evangelização que consistem em sair pelas ruas dos bairros, batendo de porta em porta, conversando com pessoas na tentativa tanto de vender seus livretos, como também de angariar novos seguidores para seus cultos e membros para estudos bíblicos. Nesse sentido, o método proselitista de evangelismo é uma marca do movimento.
A posição da Rússia nesse caso é um chamado à reflexão. O país tem sido acusado, constantemente, de violar o direito de liberdade de crença e religião, que consta tanto no Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, do qual a Rússia faz parte, quanto na própria Constituição do país, que em seu artigo 19, diz que “(…)É proibida qualquer forma de restrição dos direitos dos cidadãos sobre a identidade social, racial, étnica, linguística ou religiosa”.
Nesse sentido, banir uma religião, seja ela qual for, vai de encontro ao direito de liberdade religiosa e, ao mesmo tempo que se mostra como um alerta para que se preste atenção às tentativas de cerceamentos de liberdades por parte do governo, também exige do Cristianismo, seja ele Ortodoxo (maioria na Rússia), Romano ou Protestante, uma posição a respeito desse fato.
Em um momento em que se crescem os discursos nacionalistas e extremistas em diversos países, a criminalização de uma religião somente reforça que, na chamada “luta contra o extremismo”, extremismos também são cometidos por parte dos agentes que se dizem combatedores de tal atitude.
Em nome da chamada “proteção ao povo”, direitos são tirados e a população é entregue a leis mais rígidas de cerceamento que, na maioria das vezes, somente beneficiam as religiões ligadas ao poder político.
Ao se tomar por base os Evangelhos, bem como as cartas paulinas, é possível perceber que o discurso cristão tem, em sua origem, o amor e, consequentente, a liberdade como balizadores. Todo amor pressupõe a liberdade, algo que Paulo deixará bem claro ao ligar esse tema diretamente à pessoa do Espírito de Cristo.
Nesse sentido, lutar pela liberdade em todas as suas formas e como bem inalienável de todos os povos e religiões, se mostra como tarefa cristã, caso o Cristianismo intente seguir os passos de seu Mestre e buscar o diálogo honesto com as outras religiões existentes na face da Terra.
Se o Cristianismo prega o amor, a liberdade e a paz entre os povos e tem fortes discursos engajados em torno dessas temáticas, isso precisa se converter em ações concretas de luta contra tudo aquilo que atinge a liberdade de qualquer religião, seja ela cristã ou não. No caso específico, é tarefa cristã lutar pela liberdade religiosa dos Testemunhas de Jeová na Rússia.