Esperança: uma ação
Difícil, diante de tudo o que acontece em nosso país nesse momento, é manter a esperança. Ao vermos militares entrando em escolas e algemando crianças e adolescentes que lutam por uma educação de verdade e séria, levando-as presas, presenciar o descaso da mídia com uma das maiores manifestações de estudantes e suas ocupações em mais de 50 universidades públicas do país, e uma particular no Estado de Minas Gerais, tentando desqualificar o movimento de toda forma por meio dos meios de comunicação e ajuda do governo, bem como ver as diversas medidas de austeridade à classe média e pobre que, constantemente, tentam ser colocadas pelo governo atual, enquanto há aumentos para senadores e juízes do nosso país, pensar na questão da esperança não é uma tarefa das mais fáceis de se fazer.
Não dificilmente, as situações da vida tentam roupar nossas esperanças. Principalmente quando, diante da luta constante e diária, perdemos as forças e somos quase subjugados pelos problemas que nos advém. Como se manter esperançoso se tudo parece afundar? Como manter a esperança diante do caos que vemos constantemente ao redor do mundo e, principalmente em nosso país, em que a violência atinge níveis alarmantes, de maneira que em 5 anos se mata mais no Brasil do que na guerra civil da Síria. Como manter a esperança se aqueles que deveriam nos proteger e defender o país muitas vezes agem por seus próprios interesses e sem o menor pudor pelo mais fraco? Como ter esperança se vivemos em um país em que os níveis de corrupção é alarmante e ainda faz parte de um mal social que nos assola constantemente? Onde bobo é aquele que não é corrupto, que não tenta arrumar uma vantagem onde quer que vá, etc.
Diante de todas essas questões, ainda que dificilmente, temos que cultivar a esperança. Porém, isso não quer dizer passividade. Uma das grandes características da esperança é sua ação. Quem tem esperança, age. Nesse sentido, a esperança é o contrário do comodismo e da simples espera. Aquele que tem esperança se engaja com algo e com uma causa. Ele não está alheio ao que acontece e se posiciona frente à essas situações.
Diante disso podemos voltar às perguntas que fizemos no início. Como ter esperança diante dessas situações? A meu ver, em primeiro lugar, precisamos pensar em reviver a esperança que há em nós.
Um dos primeiros sinais de que a esperança está voltando a nós é a nossa indignação frente àquilo que nos oprime. A partir do momento que começamos a nos incomodar com a opressão, algo em nós começa a machucar e um estranho incômodo começa a nos fazer querer fazer algo. Enquanto aceitamos passivamente a opressão não percebemos que estamos oprimidos. O modo de viver oprimido se transforma no modo natural de se viver. Somente ao perceber que a opressão não é o natural que começamos a nos incomodar e lutar pela nossa liberdade. Dessa forma, é acertada a fala de Moltmann: “Quando a liberdade está próxima as algemas começam a doer”.
Com isso em mente, é interessante observarmos as lutas dos estudantes de nosso país. Suas lutas podem ser vistas como um sinal da esperança que esses adolescentes e jovens ainda demonstram ter na educação do país. Esses jovens e adolescentes não tem se acomodado e esperado que outros decidam por eles, mas tem se levantado como força de resistência e de esperança diante do caos que nossa educação pública, principalmente secundarista, se mostra há diversos anos.
Essa luta não deve ser vista como combate entre “esquerda” e “direita”. Olhar dessa forma é não perceber a gravidade da situação e tentar desmoralizar uma luta legítima que tem sido proposta pelos mais jovens, visando não perder o pouco que já se tem, caso a PEC 55 seja aprovada no Senado.
Antes, deveríamos nos unir a esses estudantes e exigir de nossos governantes, independentemente de qual partido são, educação, justiça, reforma política de verdade, fim de regalias parlamentares e jurídicas e tantas outras coisas que fazem os pobres ficarem mais pobres e os ricos mais ricos.
Enquanto nós, enquanto povo, não nos incomodarmos grandemente com isso, nossa esperança será somente espera e permaneceremos algemados achando que estamos livres por termos nos acostumados com velhos grilhões que nos prendem.