499 anos de Reforma Protestante
Hoje a reforma protestante comemora 499 anos.
Ao mesmo tempo que é motivo de muita alegria para todos os protestantes, também é momento de nos perguntarmos se, na autalidade, ainda temos sido a voz que protesta em um meio religioso que, cada vez mais, principalmente nas igrejas evangélicas do Brasil, se mostra com um crescente conservadorismo e ataque àqueles que não tem como se defender.
O movimento evangélico, que nasce do movimento protestante, tem a cada dia mais se distanciado dos princípios reformados e se enveredado por caminhos cada vez mais retrógrados, principalmente no movimento neo-pentecostal com seus representantes na Igreja Universal, Mundial, e tantas outras por aí que conhecemos.
Em troca de um discurso barato a respeito da fé e por meio do discurso do medo, são inúmeros os evangélicos que tem entrado para o cenário político para obter poder e para levar uma doutrina que não tem nada a ver com aquilo que aprendemos com o exemplo de Cristo, explorando e sacrificando a vida dos mais pobres.
Assim, ser protestante, se lembrarmos aquilo que aconteceu com Lutero, é querer e propor a reforma da igreja não para dividí-la, mas para trazê-la de novo para aquilo que ela nasceu, ou seja, anunciar a boa nova de que Deus se importa com os homens e mulheres e que, por meio da ressurreição de Cristo, Deus nos mostra que a morte não tem a última palavra na vida humana e na vida da criação, o que nos leva a lutar para que essa vida também se torne plena em nossos dias e não somente em um além glorioso.
Essa vida, da qual fala o protestantismo, não tem nada a ver com o discurso de condenação que muitos promulgam hoje para obter fieis em seus templos e também não tem nada a ver com o discurso da lógica capitalista de que a benção de Deus se revela por meio da riqueza e bem estar social.
Essa vida se mostra na luta pelo respeito entre as raças, pela igualdade de gênero em oportunidades, se mostra na luta pela criação, contra a destruição feroz da natureza através dos meios de produção devastador, se mostra na luta para um mundo de paz e de convivência harmônica entre aqueles que pensam diferente de nós.
Ao tentarmos fazer isso, começando pela própria igreja brasileira, estaremos propondo uma reforma que começa, primeiro em nós mesmos para, quiçá, alcançar nossos vizinhos. Fazer reforma não é fazer prosélitos. Ter um governante evangélico não é sinal de que Deus se agrada disso (a Idade Média mesmo mostra que, os governos eclesiásticos foram os piores que existiram no Ocidente).
Comemorar a reforma, dessa forma, é retomar essa consciência da própria origem desse movimento e, diante da situação atual de diversos seguimentos da igreja protestante e evangélica brasileira, se mostrar como vozes que tentam recuperar os ensinamentos do mestre de se importar com os outros e lutar pelas causas dos que não tem um defensor.
Ao fazermos isso, chegamos cada vez mais perto do exemplo de Cristo e honramos ainda mais os princípios da Reforma.
Fabrício Veliq
31.10.2016 – 09:33
Com todo o respeito discordo da generalização condenatória da capitalismo (discurso da lógica capitalista de que a benção de Deus se revela por meio da riqueza e bem estar social. ). O sistema capitalista não advoga este pseudo princípio. Acreditamos que o bem estar social e a riqueza se alcança com muito esforço e trabalho. Acreditamos que o capitalismo proporciona a igualdade de oportunidades e que Deus ama o ser humano independente de seu status social, independente de sua raça, independente de sua opção sexual. Deus nos ama incondicionalmente. Cristo se relacionava tanto com pobres como com ricos, tanto com judeus quanto com não judeus e até com romanos. Jesus se relacionava com os excluídos (samaritanos, leprosos, cobradores de impostos, oficiais romanos). Nossa reforma diária deve ser inclusiva e não exclusiva. Não podemos generalizar. Os meios de produção não são todos destrutivos nem devastadores. O cristianismo não é radical. O cristianismo não tem uma opção preferencial para uns em detrimento de outros.
Grande Luiz Felipe Lehman, em primeiro lugar, agradeço imensamente a leitura do texto e fico feliz que discorde do mesmo. O que relato no texto a respeito da lógica capitalista, no texto, diz respeito à teologia da prosperidade pregada pelas igrejas neo-pentcostais. Quanto ao capitalismo em si, infelizmente, discordo da ideia de que é com esforço e trabalho que se consegue bem estar social e riqueza. Quantos não conhecemos que se esforçam muito e trabalham muito mesmo e não são ricos e nem vivem bem na sociedade? Da mesma forma, com relação às oportunidades. No nosso próprio país é falacioso dizer que todos tem a mesma oportunidade que todos. Estou vivendo, como sabe, por seis meses na Bélgica para parte do doutorado em teologia e vejo, ainda aqui na Europa, que não são todos que tem a mesma oportunidade, mesmo que se esforcem muito e batalhem todo dia. MEsmo que eu esteja longe, ainda assim não precisamos ir longe para perceber que as oportunidades não são iguais para todos. Que Deus ame a todos, isso é verdade, mas o relato evangélico nos mostra que Jesus andava entre os excluídos, como você mesmo diz (que ele se relacionava com oficiais romanos, acho meio difícil dizer isso com base nos dados históricos, bem como na própria relação que havia entre romanos e judeus na época de Jesus). Quanto aos meios de produção de produção devastador, no texto menciono que temos que lutar contra esses meios que tem destruído a natureza, não disse que todos os meios de produção são devastadores. Nem todos são, realmente, mas, a maioria dos que vemos atualmente, infelizmente são. A crise ecológica que vivemos nos mostra isso bem de perto. Acredito que seja necessário pensarmos o que estamos entendendo como radical. Se for como sinônimo de radicalismo, aí concordo com você. Mas não podemos deixar de perceber a radicalidade da proposta de Jesus e das primeiras comunidades cristãs. A ideia de vender tudo o que tem para ter tudo em comum foi sim uma decisão radical. Jesus falar que devemos perdoar 70 vezes 7 foi uma atitude radical frente ao judaísmo de seu tempo, assim como curar no sábado, conversar com a mulher samaritana, chamar pescadores, comer com publicanos, e tantos outros, mostram, realmente, a atitude radical de Jesus e de seus seguidores. Quanto a opção preferencial, pelo relato evangélico e pelo relato bíblico percebemos que Deus sempre optou por estar do lado dos desfavorecidos e desprovidos de poder. Acredito que isso revela algo para nós. Não quer dizer que Deus abençoe um mais que o outro, mas que, sim, ele toma a causa dos que não tem como se defender sozinho. Gostaria de deixar claro que não condeno a riqueza no texto. Deus também nunca a condenou, mas sempre, o que está em jogo é, como diz Leonardo Boff, o lado pelo qual se luta. Mais uma vez, muito obrigado pelo comentário e discordância. Comunhão também se faz assim.