algo sobre o caminho estreito
Voltando à questão, acho interessante perceber que a fala do caminho estreito aparece no Sermão do Monte, logo após o versículo 12, do capítulo 7 de Mateus:
“Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam; pois esta é a Lei e os Profetas”
Em seguida, vem a questão da porta estreita:
“Entrem pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela. Como é estreita a porta, e apertado o caminho que leva à vida! São poucos os que a encontram”.
Algo que me chama a atenção é que o caminho estreito é colocado em íntima relação com o próximo, na mesma esteira de que é no princípio de amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a mim mesmo que se resumem toda lei e os profetas.
Assim, não é uma lista de regras a ser seguida, mas implica em obras, fruto da fé, que produzem bons frutos como dizem os versículos posteriores do mesmo capítulo, finalizando com a fala de que não são salvos aqueles que fizeram maravilhas em nome de Deus, antes aqueles que fazem a vontade do Pai. E qual a vontade do Pai, senão que amemos uns aos outros como mostrado ao longo de toda a Escritura?
É muito comum ligarmos o caminho estreito às ordenanças. Quem foi criado em uma igreja evangélica nas décadas de 80 e 90 tem isso muito latente em seu ensino e, em algumas igrejas mais rígidas, isso persiste há muito mais tempo, inclusive até hoje. Contudo, ao longo da Escritura não percebemos que o cerne da questão do andar com Deus esteja ligado às observâncias formais das leis. Não raramente vemos Deus, no Antigo Testamento, falando sobre o rasgar o coração e não as vestes, sobre o jejum que o agrada em Isaías 58, sobre o que pede de nós, em Miquéias 6:8, e tantos outros que poderíamos listar.
Assim, penso que o caminho estreito é acertado por poucos não por ser uma lista de regras difíceis de cumprirem, mas porque andar na esteira do amor é extremamente difícil. Viver sem matar, sem roubar, sem se prostituir, sem ver determinado programa, tudo isso nada tem a ver com amar a Deus. Finney mostrou muito bem que, muitas vezes, isso tem mais a ver a amar ao certo que amar a Deus e, nesse sentido, fazer o certo por amar o certo é egoísmo e pecado.
Contudo, amar àquele que te odeia, ajudar o necessitado em sua tribulação, dar comida ao que tem fome, vestir os desnudos, visitar os presos, olhar com misericórdia, e tantas outras atitudes, isso sim é difícil, isso sim parece ter mais a ver com um caminho estreito a ser seguido e que poucos acertam por ele, como diz muito bem Jesus nos versículos de Mateus 7.
A meu ver as ordenanças são somente para dar segurança. O check list das coisas que podemos e não podemos servem para trazer segurança de que estamos no caminho certo, da forma certa, etc. Mas o caminho do amor passa longe desse caminho de segurança. É um completo se entregar a Deus e ao outro, imprevisível e inseguro e que pode nos conduzir até a morte física, como foi o que aconteceu com Jesus.
Não raramente ouço a pergunta: Então quer dizer que nada é pecado? Se for por essa via de que tudo é amor e só amar importa, então nada é pecado, tudo é permitido.
Agostinho nos diz muito bem uma resposta a isso: “Ame a Deus e faça o que você quiser”. Pelo prisma do amor, a noção daquilo que é pecado é drasticamente mudada. Não é mais uma lista de pode e não pode que está em jogo, mas se é em amor que é feito ou não, se revela o amor ao próximo ou não, se é algo que Jesus faria ou não. Nesse sentido, e somente com o prisma do amor, que se pode declarar algo como pecado ou não pecado. Levando às últimas consequências essa linha de raciocínio, não dificilmente chegamos à conclusão de que tudo que não é em amor, é pecado.
Penso que esse é o caminho estreito falado por Jesus. Simples, como tudo que Jesus falou e fez. Complexo, como tudo que Jesus fez e falou. Estreito, tendo somente dois balizadores: Deus e o próximo e tudo que foge a isso torna-se alargamento do caminho e condutor à perdição .
Fabrício Veliq
07.03.2014 – 10:31