Não sei; sou eu responsável pelo meu irmão?
Ontem, vendo uma das diversas reportagens sobre as manifestações que acontecem ao redor do país, uma frase me chamou a atenção. Era de um gerente de uma concessionária em Belo Horizonte que dizia: “nós não temos nada a ver com isso”.
Ao ouvir essa frase, lembrei-me da resposta de Caim no texto bíblico de Gênesis 4: “Respondeu ele: “Não sei; sou eu o responsável por meu irmão? “
Não sou a favor dos diversos atos de vandalismos que tem ocorrido nas manifestações, acreditando que os mesmos somente enfraquecem o movimento da maioria que tenta, pacificamente, mudar a forma como o país tem sido governado. Em meio a tanta corrupção e impunidade, o povo tem mostrado que não está satisfeito com isso e vai às ruas, o que, sem dúvida, tem grande valor para uma possível revolução na história brasileira.
Ao mesmo tempo, porém, percebemos alguns que carregam um discurso como o do homem da entrevista. Em alguns, há certo sentimento de indiferença, que a meu ver, é um dos piores sentimento que se pode ter frente a uma situação ou a uma pessoa. Esse sentimento de que “não tenho nada a ver com isso, quero simplesmente voltar para minha casa”, pode ser devido à falta de esperança em uma mudança por parte do povo, pode ser o sentimento de conformismo frente à boa renda que se tem, pode ser devido ao medo de se envolver, ou ao medo de ter um país mudado, visto toda mudança trazer em si, algum desconforto.
No posicionamento da indiferença, quando não me sinto responsável pelo meu irmão, reside, talvez, o princípio da não mudança. Afinal, se a causa do outro não é importante para mim, se as angústias daquele que está ao meu lado não me atinge de alguma forma, desde que eu tenha o suficiente para mim, por que ser solidário com a questão posta pelo outro?
Penso que é interessante percebermos que o movimento de amor vai em via totalmente contrária à indiferença. A atitude de amor e a atitude de fé implica, justamente, nesse sair de si mesmo e abraçar o mundo de forma solidária e generosa, se importando com suas questões e se vendo como agentes de mudança das situações que atacam a vida digna das pessoas.
Ao termos essa visão, a resposta de Caim se torna retórica, tendo somente um sim como resposta. Somos responsáveis por nossos irmãos e somos responsáveis pela nossa cidade, estado e nação.
Assim, como certo judeu na galileia, que inconformado com a situação de sua época, abraçando as causas de seu tempo em favor dos menos favorecidos, lutou e se entregou à causa que acreditava ser a correta até o fim, em puro movimento de fé naquele em quem cria, assim também nós devemos seguir seu exemplo e lutar até o fim para mudar a situação atual, não nos conformando nunca com um sistema opressor, injusto e corrupto que temos presenciado, nem tão pouco nos mostrarmos indiferentes frente às questões de nossos irmãos.
Ser cristão passa por aí.
Nele, lutemos…
Fabrício Veliq
19.06.2013 – 09:27