Considerações sobre a vinda de Cristo
Pediram para que eu desse minha impressão sobre a parusia de Cristo. Achei interessante, pois é um tema tão pouco falado hoje. Para os que não sabem, o termo parusia quer dizer presença. Assim, a parusia de Cristo está relacionada à sua presença novamente em nosso meio, mais difundida entre os cristãos como a segunda vida de Cristo.
O que podemos dizer sobre a parusia? Como ela é encarada em nossos dias? Com essa pequena reflexão, gostaria de dar minha impressão sobre o tema.
Nas primeiras comunidades cristãs percebemos uma enorme expectativa da segunda vinda de Cristo. A primeira carta de Paulo escrita, 2 Tessalonicenses, nos mostra isso. Nessa carta, Paulo fala, em todos os 5 capítulos, sobre a volta de Jesus Cristo, tentando trazer esperança à essa comunidade que via diversos de seus membros morrerem sem ter experimentado a volta do Cristo em que criam.
Hoje, porém, percebemos um quase não falar sobre a parusia. Por que isso acontece? O tema perdeu a importância para nós?
Vivemos em um mundo cada vez mais tecnológico, um mundo pós-moderno na concepção de vários, onde a tecnologia avança vertiginosamente trazendo consigo novos paradigmas, novos valores e novas questões.
A ciência avança a cada dia, trazendo novas descobertas, curas de doenças, processos de rejuvenescimento, proposta de vida eterna através da manutenção das nossas informações cerebrais, e tantas outras promessas de longevidade humana. Não estaria aí, talvez, uma chave de leitura para o esquecimento do discurso da vinda de Cristo? Não estaríamos encharcados nessa esperança de que podemos construir um mundo melhor com todo nosso esforço e com toda nossa tecnologia? Não seríamos nós capazes de construir o Reino de Deus na Terra através de transformações que visem o bem da sociedade? Se nossa resposta é sim a isso tudo, não seria, então, não seria a volta de Cristo um ideal antropológico? O homem, ao alcançar uma consciência ética profunda e usar toda sua inteligência para propor uma melhor vida na Terra, estaria, assim, diante do novo céu e da nova Terra prometida nos textos do Apocalipse de João e de Isaías e Cristo teria voltado, pois suas ideias e seu projeto de vida estariam realizados.
Contudo, seria isso a parusia proposta na perspectiva cristã? Interessante percebermos que a plenificação do Reino de Deus, pela perspectiva bíblica, não se dá pelo esforço humano. Como comprovado pelo padre Luís Henrique em seus estudos exegéticos, não há nenhuma entrada bíblica que aponte o Reino de Deus como algo construído, antes, o Reino aparece sempre como algo dado por Deus. Não dizemos com isso que o homem não deve procurar viver de forma melhor e digna na face da Terra, que não deve procurar melhorar as condições de vida do Planeta e dos habitantes do mesmo. Porém, pela perspectiva cristã, o homem, com seus esforços, não consegue “construir” o Reino de Deus na Terra, sendo isso exclusivamente dado por Deus e estabelecido por Deus na volta de Cristo. Na própria oração do pai nosso percebemos o pedido de Jesus: “Venha a nós o teu Reino”. O pedido é feito ao Pai que concede o Reino.
Hoje percebemos em muitos cristãos a ideia de que o mundo é muito bom, que é necessário aproveitá-lo da melhor forma possível, que a vida é momentânea mesmo e que deve se esbaldar, como diria Paulo: “comamos e bebamos, que amanhã morreremos”. Não queremos dizer que o mundo seja um lugar ruim de viver, uma vez que assumimos que o mundo foi criado por Deus para o homem, então é um bom lugar para se viver, contudo o que colocamos aqui é que o homem atual se habituou ao sistema mundano e se vê tão atrelado a ele, que não quer sair mais do mesmo, pensando que esse é o melhor lugar para se viver.
Talvez o tema da vinda de Cristo não é tão pregado em nossos dias, pois lidar com a vinda de Cristo implicaria em ver o mundo como caminho de travessia, seria se ver como peregrino em Terra estranha, se ver como não pertencendo a esse mundo, o que implicaria que, tudo que fazemos aqui, deve ser visto visando o Reino de Deus.
Viver dessa forma implica em contemplar o mundo melhor somente de longe, batalhando somente para torna-lo melhor, com a consciência de que o mesmo não pode ser alcançado por nós. Seria reconhecer nossa debilidade e nossa dependência de algo superior a nós, que não conseguimos alcançar se do alto não nos for dado.
A consciência da volta de Cristo implicaria em nós um viver vigilante, um viver ético sabendo que, a qualquer momento, o senhor da casa voltará, tão contrário à nossa sociedade atual em que o lema é: “se dá para fazer, façamos”.
Seria por isso que a volta de Cristo tem sido esquecida diante de nossos discursos atuais? Motivados, ora pela nossa ideia de autossuficiência, ora por nosso medo da responsabilidade advindo da pós-modernidade?
Como cristãos, porém, poderíamos considerar a volta de Cristo como evento mitológico, como mito para dar esperança à humanidade de que o melhor está por vir? Não implicaria isso em considerar todo o evangelho como mito também?
Pensemos
Fabrício Veliq
19.04.2013 – 11:13