sobre comida e alegria
Não é verdade que a comida foi eliminada diante dos nossos próprios olhos, e que a alegria e a satisfação foram suprimidas, do templo do nosso Deus? Joel 1:16
Esse texto me chamou a atenção na manhã de hoje. No texto, Joel fala da invasão sofrida pelo povo de Israel por parte de uma nação poderosa que devastou sua terra. Conclama os sacerdotes a chorarem e a fazerem jejuns diante de Deus e no final do capítulo clama a misericórdia divina.
Ao ler esse texto, veio em minha mente a situação da igreja atual. Nessa reflexão, considerarei o “templo de Deus” no sentido de igreja institucional.
O questionamento de Joel se faz extremamente válido ao olharmos a forma como a igreja tem seguido. O versículo questiona dois pontos e gostaria de comentar um pouco sobre eles: O primeiro ponto questiona: ” não é verdade que a comida foi eliminada diante de nossos olhos?”
Hoje, mais que nunca, percebemos a presença da falta de um alimento sólido em nossas igrejas. Diante do mercantilismo da fé, das propagandas de um Deus, cujo o único interesse é proporcionar bens a seus filhos, do constante fast food evangélico, em que a reflexão e o estudo são suprimidos a troco de palavras motivacionais para “recarregar a bateria para a semana”, o questionamento apontado se torna fácil de ser percebido.
O olhar atento sobre a dinâmica institucional fará saltar aos olhos a discrepância entre a mensagem do Cristo e a mensagem atual. Todos sabemos o que acontece quando alguém não come saudavelmente durante algum tempo: a pessoa se torna fraca, debilitada e, dependendo do tempo em que a alimentação é deficitária, chega a ir para o hospital para tratamentos mais sérios. A meu ver, não muito diferente do que tem acontecido com diversos cristãos em nossos meios.
O segundo questionamento: não é verdade que a alegria e a satisfação foram suprimidas do templo do nosso Deus?”Achei muito interessante, visto que, hoje em dia, mostram-se diversas pessoas cantando e dançando nas igrejas, nos eventos gospels, no mega shows dos pop stars evangélicos e católicos. Contudo, seria isso o sinal da alegria e satisfação que é proposto ao longo do discurso cristão? Não seria a alegria e a satisfação ver o Reino de Deus sendo dado gradativamente aos homens pelo nosso exemplo? Seria, ao contrário, alegria e satisfação como momentos catárticos dentro dos cultos e shows? Não estaria a alegria e a satisfação em reconhecer como alguém amado pelo Pai e que, em comunhão com seus irmãos, compartilha esse amor com todos? Não faço aqui uma apologia à ascese (o movimento de afastamento do mundo e relegação do prazer não condiz muito com o evangelho pregado por Jesus, antes, esse evangelho mostra um ser no mundo que se alegra nele e se satisfaz nele também, sem esquecer que a plenitude não se dá nesse mundo).
Penso que esse versículo nos convida a pensar sobre a igreja cristã da atualidade. Estaríamos nós tão preocupados em viver sob normas que ditem a fé e movimentos catárticos e assim esquecendo o alimento sólido e a verdadeira alegria e satisfação no “templo do nosso Deus?”
Como última consideração, sabemos que o templo de Deus somos nós mesmos. Dessa forma, fazer esse questionamento frente a nós mesmos se torna também algo necessário. Até que ponto tenho alimentado minha alma? E com que alimento a tenho alimentado? Até que ponto tenho tido alegria e satisfação em minha vida?
Questionamentos que, sem dúvida, merecem uma reflexão.
Fabrício Veliq
22.03.13