És tu aquele que deveria de vir, ou esperaremos outro?
Outro dia comecei a pensar sobre a pergunta que João Batista pede para que seus discípulos façam a Jesus em Lucas 7: 19. A pergunta é a seguinte: “És tu aquele que deveria vir, ou esperaremos outro?”
Gosto dessa passagem uma vez que reflete a dúvida de João Batista em relação a pessoa de Cristo.
Logo no início do ministério Jesus, João Batista viu uma pomba descer sobre a cabeça de Jesus e ouviu uma voz que dizia: “Esse é meu filho amado, em quem me comprazo.” Pouco tempo depois, João Batista fala ao seus discípulos ao ver Jesus se aproximando: “Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.” Esse mesmo João Batista, passados menos de 3 anos que todas essas coisas aconteceram, ao saber o que Jesus fazia manda que discípulos perguntassem a Jesus se ele era mesmo o que deveria vir.
Refletindo sobre isso pensei então que a dúvida é permitida ao tratar-se de Jesus e seu reino.
Hoje em dia muitos buscam o evangelho das certezas. Certezas que serão salvos, certezas que estão com a pessoa certa, certezas de que se estão no caminho certo, que estão fazendo
as coisas certas e por aí se seguem várias outras buscas de certezas. Infelizmente a dúvida é vista como falta de fé ou qualquer coisa do gênero.
Se atentarmos na história dos heróis da fé, perceberemos que muitos tiveram dúvidas na caminhada. Posso citar Jó, Gideão, João e vários outros. Em todos esses casos, eles nunca foram mal vistos por Deus por desenvolverem essa dúvida.
No caso de João não foi diferente. Tanto que Jesus após a pergunta dos discípulos, no mesmo texto começa a enaltecer a pessoa de João.
A resposta de Jesus também muito admirou. Logo após a pergunta, “na mesma hora, curou muitos de enfermidades, e males, e espíritos maus, e deu vista a muitos cegos” e mandou dizer a João: “Ide, e anunciai a João o que tendes visto e ouvido: que os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres anuncia-se o evangelho. E bem-aventurado é aquele que em mim se não escandalizar”
Jesus não dá certeza direta a João com um simples: “Sim, sou eu aquele que haveria de vir”, antes dá a João as informações necessárias para que ele as interprete e conclua que ele era realmente o que haveria de vir.
Penso que muitas respostas de Deus para nós passam por esse prisma. Elas muitas vezes não vem em forma de sim e não explícito. Penso que em muitas situações, Deus fala conosco algo do tipo: “olha a situação à sua volta e perceba minha resposta nas entrelinhas da mesma”. O problema é muitas vezes queremos as respostas explícitas como a que Jesus deu à mulher samaritana. Lá Jesus diz claramente: “Eu sou o Cristo”.
Acredito que na maioria das vezes isso não acontece. Gosto de pensar que o intuito de Deus é que o conheçamos de tal forma, que saibamos interpretar seus atos e concluir a resposta para nossas perguntas.
E assim, como João, teríamos nosso questionamento respondido. E com isso não falo que teríamos a certeza, mas que, através de um ato de fé e fazendo a comparação com os desejos conhecidos do Pai, aumentaríamos a esperança de que estamos no caminho certo, que estamos com a pessoa certa, que fazemos a coisa certa, que temos uma salvação de um mundo mau e por aí vai.
Assim, a cada dia me convenço mais de que o reino de Deus não é um reino de certezas antes de inúmeros saltos no escuro. E por não ser de certezas, causa temor a muitos que embarcam nele.
Por isso convido a todos:
Pensemos e saltemos…
Fabrício Veliq
29.08.10 – 13:18
"To know that you do not know is the best. To pretend to know when you do not know is a disease." Lao Tse
Cara, grande blog! Parabéns
Fabiano cgm
Veliq cada dia me surpreendo mais com sua sensibilidade e destreza ao escrever. Lindo texto! Confesso que infelizmente não tenho um estudo da bíblia mais profundo mas concordo com sua reflexão e fechamento do texto. Penso que se Deus nos desse certeza de alguma coisa qual seria o sentido do sacrifício? Do esforço de cada dia para que os dias se tornem melhores? Qual seria afinal o sentido de viver, pois pra mim viver é experimentar, é pedir ajuda, ajudar, conseguir, perder…e principalmente ,como vc disse, buscar fazer oq interpretamos ser o desejo de Deus na esperança de que estamos seguindo seus passos.
Um dos melhores textos que vc já escreveu! Amei!
obrigado Lenk. Fico feliz que tenha gostado. Dentro de toda aquela discussão que presenciou, lembrei desse texto que reflete sobre o chamado de Cristo para o evangelho da dúvida, do incerto, enfim, do salto do escuro, que é o salto de fé..
Você é sempre bem vinda.. fique a vontade