Entre a prisão e a esperança: algo sobre idealizações.
Uma amiga de longa data me pediu para comentar um texto escrito por ela. Texto muito bonito e que me fez refletir as linhas abaixo.
Geralmente é grande o fosso entre nossa visão idealizada do mundo e o mundo como ele é mesmo. No que tange aos relacionamentos, sejam amorosos ou não, nada mais comum.
A expectativa que colocamos no outro muitas vezes é frustrada e, talvez, juntamente com a não aceitação daquilo que vemos no outro, seja o que nos faz cair em uma grande angústia, em um calabouço de emoções.
Não dificilmente prendemo-nos nesses sombrios sonhos (digo sombrio porque toda idealização traz em seu germe a sombra da descoberta de que aquilo que se imagina do outro não é aquilo que idealizamos) e desejos que não se realizaram, aguardando que, fora de nossa iniciativa, as coisas se realizarão, haverá um alguém a nos salvar e remediar nossa dor. As imagens do príncipe encantado, da princesa linda ou do salvador inesperado são sempre recorrentes nessas situações.
Diante disso, duas formas de encarar se mostram a nós: a prisão ou a esperança.
No caso da prisão, optamos pela manutenção da idealização. Buscamos, copiosamente e desesperadamente, a idealização que acreditamos haver e, cada vez mais, afundamo-nos em nosso coração partido. Construímos um castelo de ressentimentos e nos colocamos na parte mais escura e isolada dele, de maneira que ficamos cada vez mais presos em nós mesmos, ainda que com as chaves da cela nas mãos, não percebendo que um novo mundo está aberto diante de nós para ser vivido.
No caso da esperança, optamos por ver que, apesar das dificuldades, ainda não é o fim; a idealização não tem a última palavra; a vida é maior que a idealização. Nessa perspectiva, percebemos a vida como sempre à frente, sempre como devir e, ao invés da vitimização, presos às próprias sombras do passado, optamos por ver uma nova paisagem que se mostra, uma nova oportunidade de um novo começo e de um novo encontro com o melhor de nós.
Na linguagem da esperança o feixe de luz, mesmo que pequeno, entra nas frestas de nossa escuridão, é percebido e nos faz vislumbrar que onde havia trevas ali pode brilhar uma grande luz.
Fabrício Veliq
27,08,2015 – 17:59