Algo sobre sistematizadores
Sou desses que precisam das coisas escritas. Para mim, as escritas tornam as coisas mais claras, mais tangíveis. O que está escrito, está escrito e pronto. Sou um daqueles que gostam de sistematizar as falas, pontuar as questões, fazer fluxograma de ações possíveis, esquematizar os aspectos positivos e negativos das decisões, escalonar e atribuir valores para as questões da vida, etc.
Seria um forte candidato a ter a vida em uma planilha de Excel com colunas classificando cada uma das escolhas para, no final, ter uma tabela dinâmica na aba ao lado que me permitisse visualizar onde cada coisa está, bastando para isso, selecionar qual aspecto gostaria que a planilha mostrasse.
Talvez seja necessidade do controle da vida. Prever cenários é sempre uma tentativa de controle. Afinal, se é previsto, com certeza, já se tem um possível plano de ação a ser realizado caso aquilo aconteça.
Para mim, talvez o ponto mais difícil da vida é lidar com a incerteza das coisas. Ao mesmo tempo, penso que esse é o aspecto mais bonito dessa.
Mas, seria possível planejar a vida? Seria possível prever todos os cenários possíveis e os planos de ação para cada uma das fases? Onde entraria o campo para o novo, para o outro que chega diferente de mim?
Convenço-me que viver é deixar-se desestabilizar-se pela vida, pelas situações, pelos outros que chegam sem pedir licença.
Mas e a sistematização? Como fazer com ela? Como abdicar-se do controle que as sistematizações trazem? Como sair da planilha que se criou? Dessas diversas classificações do “não posso”, “não sei”, “acho que não devo”, “não quero” que não acho em minha planilha?
Tendo a concluir que escrever resoluções e acordos só fazem sentido para mim, que as demais pessoas, em sua maioria, querem sentir o toque, o abraço, a mão no ombro. Um texto pode ser isso tudo, porém, a cada dia me convenço que sou um dos poucos para os quais um texto pode ser o abraço, o carinho e o conforto que se espera.
Dessa forma, a vida se torna difícil para os sistematizadores. Difícil porque não é possível sistematizá-la e, aceitar isso, pode ser o caminho mais árduo a ser percorrido.Difícil porque a maioria prefere a demonstração por gestos e toques e assim, escrevem pouco sobre suas emoções e declarações, deixando a nós, os sistematizadores, em um completo limbo, carente de caracteres que entendamos.
Voltando às planilhas, seriam elas necessárias? Talvez não. Talvez os que vivam sem planilhas sejam mais felizes. Deixar-se levar, conduzido pelos embalos da vida, aproveitando cada novo dia como novo, cada nova experiência como experiência.
Queria muito ser desses. Desses que não sistematizam a vida, que não tem fluxogramas na cabeça para a resolução de problemas, que sentisse mais. Queria ser um amigo dos gestos, dos abraços, dos carinhos, amigo do toque físico, amante das pessoas em toda sua complexidade.Queria ser daqueles mais leves, que não pensasse sempre, nem pensasse tanto para fazer algumas coisas.
Talvez nunca consiga ser, mas pode ser que seja a hora de jogar a planilha na lixeira ao se tratar de pessoas.
Perceber que, ao contrário do que gostaria, pessoas não se encaixam em fluxogramas e tabelas dinâmicas, não agem de acordo com os condicionais colocados nas fórmulas, tendem a não sentirem de acordo com os combinados feitos, enfim, são mares de incertezas e inconstâncias.
E assim, relacionar-se com as pessoas seria como se jogar nesse mar com as ondas indo e vindo sem saber para onde se irá e nem que rumo as águas tornarão. Deixar-se levar, sem reservas.
E as planilhas? Simplesmente se perderão. Excel não tende a funcionar no mar…
Fabrício Veliq
18.11.13 – 09:31
A arte de ser uma sistematizadora: eu domino. Pero no mucho…
Abçs!
🙂